Os Srs. Algoritmos que gerem a funcionalidade “Memórias” do FB, recordaram-me hoje que há seis anos, 7/7/2018, escrevi um texto “Professor, uma profissão de risco”.
Por curiosidade fui ler e fiquei preocupado. O retrato da
situação profissional e de bem-estar dos docentes e do seu impacto em si e no
seu trabalho já era sério e creio que a situação daí para cá tem continuado a agravar-se
o que torna o cenário bem mais inquietante. Aqui fica
"Começam a ser conhecidos
os resultados do estudo realizado pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
da Universidade Nova em parceria com a Fenprof sobre as condições pessoais dos
professores considerando dimensões relativas ao “desgaste emocional, “burnout”
incluído”, e sobre as condições em que estes trabalham - se há cansaço,
desânimo, desmotivação ou, pelo contrário, alegria.”
Responderam perto de 16000
docentes e os resultados são inquietantes. Quase metade dos docentes que
responderam revela sinais preocupantes de “exaustão emocional”, (20,6% mostram
sinais “preocupantes”, 15,6% apresentam “sinais críticos” e 11,6% têm já “sinais
extremos” de esgotamento) e mais de 40% não se sentem profissionalmente
realizados
Foram identificados alguns
factores explicativos dos resultados, a idade dos docentes, as questões
relativas à carreira, organização (burocracia na escola e gestão hierarquizada
das escolas) e o comportamento indisciplinado dos alunos.
Algumas notas.
De acordo com a Fenprof
existirão perto 12000 docentes em situação de baixa médica sendo que em Março,
de acordo com a ADSE estavam mais de seis mil professores com baixa médica há
mais de sessenta dias a aguardar pela realização de junta médica. O ME não
divulga o total de docentes em situação de baixa, mas os directores escolares e
a as estruturas sindicais afirmam que tem aumentado.
Estarão recordados que também
em Março se realizou em Lisboa um encontro internacional organizado pelo ME,
OCDE e pela organização Internacional da Educação. O tema central da cimeira
foi o bem-estar dos professores pois “Não se deve perder a oportunidade de
colocar o bem-estar dos professores no centro das políticas de todos os países
que participam nesta cimeira”, afirmou a propósito o secretário-geral da IE,
David Edwards e o bem-estar dos professores terá de ser percebido pelos
Governos como “um tema político de primordial importância”. Sabe-se que se os
docentes “se sentem bem com eles próprios podem fazer uma diferença positiva no
ensino dos seus alunos” lê-se na nota de imprensa.
Escrevi na altura que a
cimeira acontecia em Portugal num tempo em que certamente a boa parte dos
docentes não se sentirá globalmente valorizada embora, os estudos o confirmam,
globalmente gostem da profissão, tal como os alunos apreciam positivamente o seu
trabalho.
O estudo agora conhecido vem
apenas confirmar e actualizar o que já outros indiciavam.
Como causas mais contributivas
para este cenário de elevado stresse profissional são identificadas turmas com
elevado número de alunos, o comportamento indisciplinado e desmotivação dos
alunos, a pressão para os resultados, insatisfação com as condições profissionais
e de carreira, carga horária e burocrática, falta de trabalho em equipa, falta
de apoio e suporte das lideranças da escola.
Também deve ser objecto de
reflexão o peso da variável idade.
Conforme o Relatório “Perfil
do Docente”, divulgado em Julho de 2016 e considerando dados de 14/15 apenas
1.4% dos docentes que leccionam em escolas públicas têm menos de 30 anos, não
chegam a 500.
Acresce que o grupo etário com
mais de 50 anos é o mais representado, 39.5%. Se a este grupo adicionarmos o
escalão imediatamente anterior, 40 aos 49, temos que 77,3% dos docentes estão
nos dois grupos mais velhos.
Se juntarmos o baixo número de
saídas para aposentação e como escrevia há algum tempo num país preocupado com
o futuro este cenário faria emitir, como agora se usa, um alerta vermelho e
agir em conformidade. Acresce ainda os efeitos de grave situação relativa à
carreira, à progressão e ao estatuto salarial.
Na verdade, os dados só podem
surpreender quem não conhece o universo das escolas, como acontece com boa
parte dos opinadores que pululam pela comunicação social perorando sobre
educação e sobre os professores. Aliás, esta situação verifica-se noutros países,
sendo que para além dos professores, os profissionais de saúde e de apoios
sociais também integram os grupos profissionais mais sujeitos a stresse e
burnout.
Este quadro é inquietante, uma
população docente envelhecida e a revelar preocupantes sinais de desgaste.
Também se sabe que as
oscilações da demografia discente não explicam a saída de milhares de
professores do sistema, novos e velhos, como também não explicam a escassíssima
renovação, contratação de docentes novos. Sem estranheza, no universo do ensino
privado é bastante superior a presença de docentes mais jovens. Não esqueçamos
ainda a deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas
últimas décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um
rumo, um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores.
Acresce que sucessivas equipas ministeriais têm empreendido um empenhado
processo de desvalorização dos professores com impacto evidente no clima das
escolas e nas relações que a comunidade estabelece com estes profissionais.
Sabemos que os velhos não
sabem tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que
qualquer grupo profissional exige renovação pelas mais variadas razões
incluindo emocionais, de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.
As salas de professores são
cada vez mais frequentadas, quando há tempo para isso, por gente envelhecida,
cansada que se sente desvalorizada, pouco apoiada, e que muitas vezes,
demasiadas vezes, pergunta "Quanto tempo é que te falta?"
Na verdade, ser professor é
uma das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas
é seguramente uma das mais difíceis e que mais respeito e apoio deveria
merecer. Do seu trabalho depende o nosso futuro, tudo passa pela educação e
pela escola.
E a verdade é que conforme os
estudos internacionais de natureza comparativa mostram o trabalho de
professores e alunos, tem revelado progressos importantes nos últimos anos
desencadeando, aliás, uma curiosa luta pela paternidade desse sucesso que,
obviamente, pertence a professores e alunos.
Os sistemas educativos com
melhores resultados são, justamente, os sistemas em que os professores são mais
valorizados, apoiados e reconhecidos."
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