No Público encontra-se um trabalho
a propósito do lançamento do livro “Modo de Produção da Exclusão Social – Olhar
a Escola a partir dos Excluídos” de Joaquim de Azevedo, coordenador desde 2013 do
Projecto Arco Maior dirigido a jovens que abandonaram o ensino regular sem
conseguirem concluir o 6.º, 9.º ou o 12.º ano. Foram apoiados cerca de 600
jovens durante estes anos.
De acordo com Joaquim de Azevedo, o projecto recebe os jovens “completamente
destruídos” pela escola que teve um papel preponderante no “deslassamento daqueles alunos”, foi
para eles um espaço de “humilhação e marginalização”, levando-os a abandoná-la.
Para além de algumas
especificidades, o grupo de jovens envolvidos apresentam alguns traços em comum,
famílias com baixo rendimento e desestruturadas, frequentemente envolvidas em
questões de consumos e tráfico, violência doméstica, com baixa escolaridade
parental. Passaram pela identificação precoce de problemas de adaptação ou
mesmo cognitivos e percursos de acompanhamento pelas Comissões de Protecção de
Crianças e Jovens.
A “ineficiência” da escola obriga, mais uma vez, a que um Projecto, uma Iniciativa, um Plano, um … “Qualquer
Coisa”, venha do exterior de uma escola “obesa”, onde tudo deve caber, é "inclusiva" e a quem tudo se
pede e se exige “fazer o que ainda não foi feito” (espero que o Pedro Abrunhosa
não se incomode com o “plágio”).
Num exercício de crença e boa
vontade afirmo, como o José Afonso, “seja bem-vindo quem vier por bem” e
registo todas as iniciativas que possam contribuir para minimizar ou erradicar
problemas como será o caso do Arco Maior, mas já me falta convicção no impacto
do procedimento habitual, para cada constrangimento ou dificuldade percebida
nas escolas, pelas escolas ou de fora das escolas, aparece vindo de fora ou
gerido de fora, um Plano, um Projecto, um Programa, uma Iniciativa, as
combinações são múltiplas, destinado a minimizar eliminar as dificuldades identificadas.
Com demasiada frequência muitos
destes projectos ou iniciativas vêm de fora das escolas, as origens são
variadas, não chegam a envolver a gente das escolas, esmagada pelo trabalho,
burocracia e outros constrangimentos como, por exemplo, assegurar da melhor
forma possível o dia-a-dia do trabalho educativo que tem de ser realizado.
Também sei que existe em cada comunidade
escolar uma multiplicidade de práticas de qualidade variada, mas tenho para
mim, que não podendo a escola responder a todas as questões que afectam quem
nelas passa o dia poderia, ainda assim, fazer mais e melhor se os investimentos
feitos no mundo à volta da escola e que lhe vêm bater à porta com propostas
fossem canalizados para as escolas e geridos pelas escolas.
Com real autonomia, com mais
recursos e com modelos organizativos mais adequados as escolas poderiam
certamente fazer mais e melhor que quem vem de fora numa passagem transitória,
mais ou menos longa, mas transitória. Sim, tudo isto deveria ser objecto de
escrutínio, regulação e avaliação também externa, naturalmente.
Escolas com mais auxiliares,
auxiliares informados e formados podem ter um papel importante em diferentes
domínios.
Directores de turma com mais
tempo para os alunos e professores com menos alunos poderiam desenvolver
trabalho útil em múltiplos aspectos do comportamento e da aprendizagem.
Psicólogos e outros técnicos em
número mais adequado poderiam acompanhar, promover e desenvolver múltiplas
acções de apoio a alunos, professores, técnicos e pais.
Mediadores que promovessem
iniciativas no âmbito da relação entre escola, pais e comunidade seriam, a
experiência mostra-o, um investimento com retorno.
Professores valorizados e
qualificados social e profissionalmente o adequar de dimensões como o
recrutamento, o ajustamento na formação, o modelo de carreira, o modelo de
avaliação e progressão, a valorização do estatuto salarial dos docentes, ou a
desburocratização do trabalho dos professores, entre outros aspectos.
Modelos de governança mais
adequados, competentes e participados.
Repetindo e sintetizando, os
professores sabem como avaliar e identificar as dificuldades dos alunos. O que
verdadeiramente é imprescindível é dotar as escolas de forma continua e estável
dos recursos necessários para minimizar tanto e tão rápido quanto possível as
dificuldades que identificam. Recursos suficientes para recorrer a apoios
tutoriais ou ao trabalho com grupos de alunos de menor dimensão, apoios
específicos a alunos mais vulneráveis, técnicos, psicólogos, por exemplo, num
rácio que possibilite um trabalho multidimensionado como é exigido, etc., são
essenciais e serão sempre essenciais. Torna-se também necessária a existência
de dispositivos de regulação que sustentem o trabalho desenvolvido e de
processos desburocratizados.
São apenas alguns exemplos de
respostas com resultados potenciais com um custo que talvez não seja superior
aos custos de tantos Projectos, Planos, Programas ou Iniciativas Inovadoras
destinadas a múltiplas matérias e com custos associados de “produção” que já me
têm embaraçado, mas a verdade é que as agendas e o marketing têm custos. Por
outro lado, também acontece que todo este movimento acaba por mascarar a
inadequação ou ausência em matéria de políticas públicas.
Daí este meu cansaço.