No Público tropecei com uma história curiosa sobre livros e leitura que me leva a retomar algumas notas sobre a importância dos livros e da leitura.
Em Outubro foi divulgado pela
imprensa europeia, incluindo o Público, um designado Manifesto de Liubliana,
subscrito pela Associação Internacional de Editores, Academia Alemã de Língua e
Literatura, Federação dos Editores Europeus, EU-READ, Consórcio de organizações
europeias de promoção da leitura, PEN Internacional, Federação Internacional
das Associações de Bibliotecários e Conselho Internacional dos Livros para
Jovens. Este Manifesto foi apresentado na Feira do Livro de Frankfurt que
decorreu também em Outubro.
A iniciativa destina-se promover
os hábitos de leitura entre crianças e jovens designadamente a leitura de
livros e textos mais longos. O movimento é sustentado pela importância que para
o desenvolvimento global e conhecimento a leitura assume e, naturalmente,
motivado pelo abaixamento destes hábitos de leitura que continuam preocupantes.
Independentemente do alcance qua
a iniciativa possa ter é importante que se valorize. Como já aqui tenho
escrito, os livros e a leitura são bens de primeira necessidade para gente de
todas as idades donde a insistência. Recordo sempre Marguerite Yourcenar que em
“As Memórias de Adriano” escrevia “A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz
humana.”
São múltiplos os estudos e
referências que sublinham o impacto dos livros e da leitura no desenvolvimento
e nas competências escolares bem como no trajecto pessoal. Lamentavelmente, são também
muitos os trabalhos que mostram que os hábitos de leitura são pouco consistentes
entre as crianças, adolescentes e jovens como, sem surpresa, também o são entre
a população em geral. Nos últimos tempos parece estar a despertar um maior
interesse pelos livros, sobretudo entre os mais novos, associado a um fenómeno
das redes sociais, os booktokers que lêem e divulgam livros no TikToK.
Esperemos que se mantenha e fortaleça.
Os livros têm uma concorrência
fortíssima com outro tipo de materiais, jogos ou consolas por exemplo, e que
nem sempre é fácil levar as crianças, jovens ou adultos a outras opções,
designadamente aos livros.
Apesar de tudo isto também
sabemos que é possível fazer diferente, mesmo que pouco e com mudanças lentas.
Só se aprende a ler lendo e o
essencial é criar leitores que, quando o forem, procurarão o que ler, livros
por exemplo, em que espaços, biblioteca, casa ou escola e em que suportes,
papel ou digital.
Um leitor constrói-se desde o
início do processo educativo. Desde logo assume especial importância o ambiente
de literacia familiar e o envolvimento das famílias neste tipo de situações,
através de actividades que desde a educação pré-escolar e 1º ciclo deveriam ser
estimuladas, muitas vezes são, e para as quais poderiam ser disponibilizadas
aos pais algumas orientações. Talvez tivéssemos perdido uma oportunidade
enquanto os alunos estiveram em casa tanto tempo.
Apesar dos esforços de muitos
docentes, a relação de muitas crianças, adolescentes e jovens com os materiais
de leitura e escrita assentará, provavelmente de forma excessiva, nos manuais
ou na realização de trabalhos através da milagrosa “net” proliferando o
apressado “copy, paste” ou resumos disponíveis das obras que são de leitura
obrigatória ou recomendada.
Neste contexto, embora desejasse
muito estar enganado, não é fácil construir miúdos ou adolescentes leitores que
procurem livros em casa, em bibliotecas escolares ou outras e que usem o
"tablet" também para ler e não apenas para uma outra qualquer
actividade da oferta sem fim que está disponível. A iniciativa dos booktokers
que referi acima pode ser um bom sinal.
Felizmente e apesar das
dificuldades também importa sublinhar que se realizam com regularidade
experiências muito interessantes em contextos escolares, os professores
bibliotecários têm desenvolvido um trabalho essencial, ou em iniciativas mais
alargadas a outras entidades como autarquias e instituições culturais.
Precisamos de criar leitores,
eles irão à procura dos livros ou da leitura, mesmo em tempos menos favoráveis.
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