O Público divulga um estudo publicado na Frontiers in Psychology, “Handwriting but not typewriting leadsto widespread brain connectivity: a high-density EEG study with implications for the classroom” que merece leitura e reflexão. Num tempo em parece ter-se instalado no sistema educativo um deslumbramento com o digital termos mais um trabalho que evidencia a importância de aprendizagem da escrita à mão e não de forma digital é importante e útil. No entanto, não está em causa o recurso a ferramentas digitais desde que devidamente enquadrado.
Curiosamente, ao ler o trabalho
lembrei-me de uma história que coloquei no Atenta Inquietude em 2010, o tempo
voa, com o título, “As mãos que ensinam”. Aqui fica, está actual.
(…)
Um dia destes a Sara, professora
de gente pequena, encontrou-se no refeitório da escola com o Professor Velho, o
que está na biblioteca e fala com os livros. A conversa, para não variar, foi
sobre o trabalho de ensinar e aprender.
Estava a lembrar-me da reunião
que ontem tivemos. Velho, que me dizes à polémica que vai por aí sobre a
utilização dos computadores com os gaiatos pequenos? Estás contra ou a favor?
Na minha idade já nem sempre
consigo estar de forma definitiva, contra ou favor de muitas coisas. A questão
dos computadores na sala de aula com os miúdos pequenos é um exemplo, acho que
não se pode discutir assim.
Então?
Como é evidente os
computadores fazem cada vez mais parte da nossa vida em múltiplas dimensões.
Assim sendo, considerando que a escola deve lidar e colocar os miúdos a lidar
com as coisas da vida, o computador poderá aparecer e integrar-se, no trabalho "sério"
ou nas brincadeiras, é uma questão de bom senso. Por outro lado, quando se
começa a mexer nas letras, a juntá-las e a escrever, parece-me muito importante
que as mãos escrevam, desenhem as letras, construam as histórias. Às vezes
dizem que os miúdos se motivam mais porque os computadores são inovadores. É um
equívoco, os miúdos motivam-se por aquilo que gostam e aprendem a gostar. E
para aprender a gostar também é preciso saber fazer. Repito, parece-me
essencial que as mãos conheçam as letras, como elas se desenham, como elas se
juntam e o que elas são capazes de dizer. Utilizar o computador será útil para
algumas outras tarefas ou actividades que não substituem escrever e construir
textos com as mãos.
Sabes que tanto como a cabeça
ensina as mãos, as mãos ensinam a cabeça. Quando as mãos e a cabeça aprendem e
sabem, então o computador também já pode ser uma caneta. Dá para entender Sara?
É por isso que estou contra e a favor do uso dos computadores pelo gaiatos
pequenos ou, se preferires, a favor e contra.
Parece simples Velho, porque
se discute tanto?
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