Inicia-se hoje o ano lectivo. Bem, pode ser hoje ou não, porque está definido um intervalo de cinco dias, que não entendo muito bem, em que as escolas podem iniciar as actividades.
Mais uma vez, lamentavelmente, vamos começar a lida sem que se vislumbre a presença de uma condição essencial a que as coisas corram bem, serenidade. De facto, não parece difícil antecipar a dispensável turbulência a que nos habituamos mas a que não nos adaptamos.
O Publico apresenta algumas destas previsíveis fontes de turbulência, retomando a mesma linha de abordagem e sem hierarquizar por importância potencial, vejamos alguns factores que nos fazem temer pela falta de serenidade.
Considerando os antecedentes, é previsível que a educação continue a ocupar um lugar privilegiado da luta político partidária subordinando discursos e análises dos problemas a agendas outras que não só a qualidade do trabalho de alunos e professores.
A reorganização apressada e em alguns casos incompreensível da rede escolar, com o fecho de escolas ainda por terminar, persistindo diferendos com algumas câmaras que implicam ameaças de retaliação e eventuais problemas com transportes, são aspectos que sobrarão, claro, para miúdos, professores e famílias. A criação de mega-aprupamentos com implicações na gestão, articulação e culturas institucionais e o gigantismo das comunidades educativas terá certamente consequências na qualidade do trabalho a desenvolver.
A maioria das escolas vai iniciar o ano sem que os seus Regulamentos Internos estejam adaptados às disposições do novo Estatuto do Aluno criando algumas dificuldades de natureza processual.
As anunciadas metas de aprendizagem irão ser conhecidas, se forem, com o ano a decorrer e, na mesma área, a imprescindível revisão curricular, designadamente no insustentável 3º ciclo, anunciada, começada, suspensa, adiada e sempre falada e desejada anda nesta indefinição caótica.
Os processos previstos no modelo de avaliação de professores trarão um acréscimo de trabalho para as escolas com impactos neste momento não antecipáveis mas certamente onerosos de tempo e esforço e ruído.
A colocação tardia de professores e mesmo de alunos também não é propriamente um facilitador de um bom início do ano lectivo.
Gostava muito de estar enganado e assumir um discurso optimista como o assumido pela Ministra da Educação, mas não vejo muito por onde possa sustentar esse optimismo.
Como sempre, confio, sobretudo, na resiliência dos miúdos e dos bons professores, a grande maioria, para que, mesmo sem a serenidade necessária, a coisa possa correr bem.
Bom trabalho.
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