Eu sei, sou estúpido, é a economia, é coisa para inteligentes, mas já não há saco. Neste tempo em que a crise económica e as suas consequências mais graves, sobretudo o desemprego, se abatem sobre as classes menos favorecidas economicamente, aparecem de todo o lado as vozes a clamar pelos sacrifícios que é preciso fazer para salvar o país, agora chegou a OCDE e existe o espectro do FMI. A crise resultou, parece, de modelos errados e desregulados de desenvolvimento, do endeusamento do mercado, da ganância especulativa dos mercados financeiros com a complacência negligente, cúmplice ou incompetente das diversas entidades de supervisão, nacionais ou internacionais.
Neste contexto, acho de um atrevimento despudorado as movimentações de economistas, ex-ministros das finanças e outros iluminados que tendo sido parte do problema durante décadas vêm agora para a praça pública diariamente exigir sacrifícios e medidas draconianas que, obviamente, não os atingirão. Se bem se lembram o dinheiro dos contribuintes, em muitos países e também entre nós, tem sido usado para salvar a banca que continua a registar lucros não devidamente taxados.
Em vésperas de negociação do OGE e antes de ser recebido pelo Presidente da República, o candidato a governar o País, Dr. Passos Coelho vai ouvir reputados “especialistas” na área da economia e finanças. Como não se imagina que se trata de uma jornada de convívio, será, certamente um espaço de “reflexão”, eu diria, de aconselhamento.
E voltamos ao mesmo. Este pessoal que em tempos diferentes e de forma diversa deu o seu contributo para a situação a que chegámos, assume-se agora como farol que segura e inequivocamente mostra o caminho para ultrapassar dificuldades.
Como vai sendo habitual o discurso sugerirá a imprescindibilidade de, claro, exigir sacrifícios, contenção, cortes, sendo que estes atingirão os suspeitos do costume.
Como diz o povo, o que paga a crise, fazem o mal e a caramunha.
Continuo na minha, sem a introdução de uma fortíssima dimensão ética no mundo da economia e finanças, os economistas, na sua generalidade, são mais parte do problema que da solução.
2 comentários:
Gostei do seu mini-texto. Concordo consigo, no sentido em que existe uma profunda falta de valores na sociedade. Mas quando penso que se o "povinho", que é sempre aquele que manda mais bocas para a classe política, lá estivesse faria exactamente a mesma coisa, o que me deixa um pouco preocupado. De facto, culpar a classe política é o caminho mais fácil mas para mim a culpa é do "povinho". O povo é a causa e a solução do problema.
Caro Vitor,
De acordo, como se costuma dizer, provavelmente, teremos o que merecemos.Mas é mau.
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