Pode parecer uma associação estranha, mas vou tentar explicar. Na imprensa e pela nossa experiência diariamente se regista e se sente, naturalmente, as dificuldades que muitas pessoas atravessam em consequência da crise instalada na nossa vida por responsabilidade daqueles que, curiosamente, aparecem com receitas milagrosas para dela sair. É claro que nas mais das vezes, a receita passa pela defesa de mais sacrifícios que atingem os mais vulneráveis, alimentando ciclos de pobreza e dificuldade que dificilmente se contrariam.
Do meu ponto de vista, aqui várias vezes afirmado, a questão central, para além dos imprescindíveis apoios a situações extremas, remete para os modelos de desenvolvimento económico e social que temos "sofrido" e para a refundação de uma dimensão ética no mundo da economia e finanças que se conjugue com a mudança desses modelos.
Sem esta alteração de fundo a crise e as dificuldades emergem ciclicamente, com maior ou menor impacto, mas sempre promovendo dificuldades para a maioria das pessoas e oportunidades para um grupo pequeno que nelas se movem bem.
É neste contexto, a crise que vai e volta, que me lembro da história da sardinha bem conhecida na família e contada pela minha avó Leonor, mulher fantástica, de quem já vos tenho falado. Quando se falava de dificuldades ela contava no seu jeito encantatório que dificuldades sempre houve e haverá. Quando era pequena, numa aldeia lá para os lados de Vila Velha de Ródão raramente acedia uma luxo chamado sardinhas e quando lá chegavam eram quase sempre já salgadas porque frescas era impossível. Nesses dias de festa, sardinhas à mesa, a mãe perguntava-lhe se queria a parte da cabeça ou a parte do rabo, isso mesmo, metade de uma sardinha em dia especial.
Concluía a avó Leonor que em todos os tempos há dificuldades para muitas pessoas, mas que sempre hão-de vir melhores dias, ela nunca perguntou aos filhos que metade da sardinha preferiam.
A avó Leonor era uma optimista.
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