sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A PEGADA ÉTICA

O despertar das consciências para as questões do ambiente e da qualidade de vida colocou na agenda a questão das pegadas, das marcas, que imprimimos no mundo através dos nossos comportamentos. Este novo sentido dado às pegadas tornou secundárias e ultrapassadas as míticas pegadas dos dinossauros ou as românticas pegadas que os pares de namorados admiram na areia da praia.
Fomo-nos habituando a ouvir referências às várias pegadas que produzimos com nomes e sentidos mais próximos ou mais distantes mas, sobretudo, tem-se acentuado a grande preocupação com a diminuição do peso, isto é, do impacto das nossas pegadas. Conhecemos a pegada ecológica numa perspectiva mais global ou, em entendimentos mais direccionados, a pegada hídrica, a pegada energética, a pegada verde, a pegada do papel, a pegada do carbono, etc.
Do meu ponto de vista e sempre preocupado com o ambiente, com a qualidade de vida e com a herança que deixaremos a quem nos segue, nunca encontro referências e muito menos inquietações sérias com a pegada ética, isso mesmo, a pegada ética. Os comportamentos e valores que genericamente mobilizamos têm, obviamente, uma consequência na qualidade ética da nossa vida que não é despicienda. Os maus tratos e negligência que dedicamos aos princípios éticos mais substantivos provocam um empobrecimento e degradação do ambiente e da qualidade de vida dos quais cada vez parece mais difícil recuperar.
As lideranças, hipotecando a sua condição de promotores de mudanças positivas são fortemente responsáveis pelo peso e impacto que esta pegada ética está a assumir.
Vai sendo tempo de incluir a pegada ética no universo da luta pelo ambiente, pela qualidade de vida e pelo futuro.

1 comentário:

Jorge disse...

Será talvez dificil conceber esta ideia por ter profundas implicações a diversos niveis, mas numa sociedade escravizada pela escassez de dinheiro e dominada pela artificialidade da economia, como podemos conceber uma genuina ideia de ÉTICA? Se o lucro a qualquer custo parece ser, esmagadoramente, a linha de conduta dominante, não importa se destruindo o ambiente ou explorando o próprio ser humano, pergunto-me se alguma vez será possivel que exista verdadeiramente ética na nossa sociedade...?

Se o patrão está mais preocupado com a manutenção dos lucros astronómicos da sua empresa (como é já tão comum hoje em dia...) ao invés do bem estar dos seus empregados e suas familias, como podemos, mais uma vez, aspirar a um mundo éticamente mais são?

Além disso, será certamente mais fácil para nós, cidadãos do mundo desenvolvido, falar-mos de ética na
segurança do nosso conforto e do nosso alto nivel de vida, mas falemos de ética com qualquer uma das milhões e milhões de pessoas que neste mundo vivem apenas com menos de 2 euros por dia... (cerca de 50% da população!)

O que será então éticamente mais condenável, uma mãe vitima do iníquo sistema que rouba
desesperadamente pão na mercearia para dar de comer aos seus filhos esfomeados, ou aquele "boss" que
do alto de um "skyscraper" no seu luxuoso "office" comete as mais graves falcatruas económicas apenas e só para alimentar a sua sede de poder, riqueza e luxo?

Honestamente, creio que ética e lucro (ou capitalismo, como quisermos) são incompativeis na sua verdadeira essência e, por isso, dificilmente poderão coexistir (pelo menos a médio ou a longo prazo). Infelizmente é o último que hoje predomina na nossa cultura.