Hoje passei algum tempo no Centro de Saúde da minha zona. Como gosto de partilhar experiências interessantes vou procurar retratar o ambiente. Terão de introduzir como música de fundo as vozes de cerca de 20 pessoas, o choro e alguns gritos de três infelizes crianças pequenas, as vozes dos médicos que pela instalação vão chamando os em boa hora designados pacientes e o apito do aparelho que vai mostrando a senha de atendimento. Juntem a isto tudo um ar resignado e de paciente de alguns, o ar ausente de uns poucos, o ar impaciente e agitado de outros e já temos cenário. Agora o que eu fui ouvindo e vendo. “Não atires o telemóvel para o chão se não tiro-te” diz a mãe à criança que chora debruçada no carrinho. “A senhora que número tem? O 7! Ai credo, que eu tenho o 15, quando é que saio de cá” diz uma senhora gorda que comia bolachas. “Espera homem, então agora é preciso tirar senha para pôr o carimbo na receita”, diz a mulher do envelope de radiografias. “Olhe, nem sei do que me queixar, tenho tanta coisa” diz a velhota que parece padecer sobretudo de solidão. “Por aqui? Tás doente?”, pergunta um sujeito com um braço engessado a um jovem que entrou. “Não, venho tratar da baixa” diz o jovem que entrou. “Não saias daqui agora que está quase na nossa vez” diz a mãe do miúdo que faz gincana no corredor de acesso. “O senhor não pode esperar aqui encostado ao balcão” diz o funcionário. “É que me custa estar sentado”, diz o senhor que está encostado ao balcão. “Gosto muito do Dr. Silva, pergunta-me sempre pelos netos” diz a avó que me parece estar ali só para isso mesmo, alguém que lhe pergunte pelos netos.
O aparelho apita. É a senha 43, a minha. “Desculpe estar tanto tempo à espera só para pôr o carimbo” diz a solícita funcionária. “Foi um privilégio” disse eu.
O aparelho apita. É a senha 43, a minha. “Desculpe estar tanto tempo à espera só para pôr o carimbo” diz a solícita funcionária. “Foi um privilégio” disse eu.
1 comentário:
As reformas quando são postas em marcha não correm todas á mesma velocidade. Há locais que por questões de recursos humanos ou de Infra-Estruturas ainda inadequadas, se atrazam.
No posto de saúde do qual sou utente (Corroios,extensão de Miratejo), o meu amigo não tinha tempo para fazer cenários nem tão pouco guiões.
Há marcação de consulta; há senha; há apito; há consulta. Única e exclusivamente isto!
Tudo o resto que existe no seu posto, no meu desapareceu.
Tempo gasto?
Se levar um livro, num dia de sorte ainda consegue ler 10 páginas (não folhas), senão ficará por meia duzia de parágrafos.
Afinal nem tudo é mau!...
Aqui e ali há salpicos de modernidade e preocupações sociais.
OS MAIS CARÊNCIADOS AGRADECEM!
Saudações
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