A vida por aqui no monte envolve um conjunto de rotinas ao longo ao ano. Por esta altura e até ao início de Setembro, é altura da limpeza dos “pés de burro” das oliveiras, os rebentos que surgem na base do troco e à sua volta. Com uma enxada ou sacho forte e tesoura de podar o trabalho faz-se. Depois é carregar e triturar para compostagem ou queimar os sobrantes quando for possível.
As oliveiras que considero as
árvores mais bonitas do nosso património ficam ainda mais bonitas quando limpas
e com a vantagem de ser mais fácil estender os panos para colher a azeitona lá
mais para a frente.
Sendo as oliveiras umas árvores
tão bonitas, é para mim uma visão triste um olival de oliveiras velhas sem
estarem limpas, cheias de “mato” à volta. Mas cada vez é mais difícil cuidar e
manter um olival tradicional.
Sempre que olho para as
oliveiras, especialmente aquelas com muitos séculos como algumas aqui do Monte admiro
a sua generosidade.
Começam por dar as azeitonas que
se comem em três variantes, pisadas, retalhadas e de conserva, qual delas a
mais saborosa. Toda a gente tem uma arte de as temperar e, claro, nós também já
temos os segredos, aprendemos com o Mestre Marrafa.
As azeitonas vão para o lagar e
virá o azeite, a alma do comer bom, e como tem alma o azeite do Meu Alentejo.
Para além da azeitona e do
azeite, a oliveira ainda é a mais calorosa das árvores, sempre a aquecer-nos.
Aquece-nos quando maldosamente lhe batemos, varejamos, para nos dar a azeitona,
aquece-nos quando a limpamos de pés de burro e cortamos os ramos e troncos para
assegurar a sua renovação, aquece-nos quando rachamos e arrumamos a lenha que
nos deu e, finalmente, ainda nos aquece quando nas noites longas e frias do
Inverno arde na salamandra.
Como bondade final, esta generosa
capacidade de dar vive numa escala incomensurável para nós, dura séculos.
São tão bonitas e generosas as
oliveiras.
E são assim os dias do Alentejo
que, curiosamente, o de hoje já incluiu uma conversa simpática com uma
jornalista sobre a realização de trabalhos escolares durante as férias.
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