terça-feira, 13 de agosto de 2024

OS DIAS DOS PÉS DE BURRO

 A vida por aqui no monte envolve um conjunto de rotinas ao longo ao ano. Por esta altura e até ao início de Setembro, é altura da limpeza dos “pés de burro” das oliveiras, os rebentos que surgem na base do troco e à sua volta. Com uma enxada ou sacho forte e tesoura de podar o trabalho faz-se. Depois é carregar e triturar para compostagem ou queimar os sobrantes quando for possível.

As oliveiras que considero as árvores mais bonitas do nosso património ficam ainda mais bonitas quando limpas e com a vantagem de ser mais fácil estender os panos para colher a azeitona lá mais para a frente.

Sendo as oliveiras umas árvores tão bonitas, é para mim uma visão triste um olival de oliveiras velhas sem estarem limpas, cheias de “mato” à volta. Mas cada vez é mais difícil cuidar e manter um olival tradicional.

Sempre que olho para as oliveiras, especialmente aquelas com muitos séculos como algumas aqui do Monte admiro a sua generosidade.

Começam por dar as azeitonas que se comem em três variantes, pisadas, retalhadas e de conserva, qual delas a mais saborosa. Toda a gente tem uma arte de as temperar e, claro, nós também já temos os segredos, aprendemos com o Mestre Marrafa.

As azeitonas vão para o lagar e virá o azeite, a alma do comer bom, e como tem alma o azeite do Meu Alentejo.

Para além da azeitona e do azeite, a oliveira ainda é a mais calorosa das árvores, sempre a aquecer-nos. Aquece-nos quando maldosamente lhe batemos, varejamos, para nos dar a azeitona, aquece-nos quando a limpamos de pés de burro e cortamos os ramos e troncos para assegurar a sua renovação, aquece-nos quando rachamos e arrumamos a lenha que nos deu e, finalmente, ainda nos aquece quando nas noites longas e frias do Inverno arde na salamandra.

Como bondade final, esta generosa capacidade de dar vive numa escala incomensurável para nós, dura séculos.

São tão bonitas e generosas as oliveiras.

E são assim os dias do Alentejo que, curiosamente, o de hoje já incluiu uma conversa simpática com uma jornalista sobre a realização de trabalhos escolares durante as férias.

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