Numa peça do JN aborda-se a questão da agressão a professores. De acordo com dados da GNR e de organizações dos professores os dados evidenciam uma subida do volume de episódios. Este ano lectivo, a Guarda registou 32 queixas e identificou 39 pessoas por agressões a professores, quase o dobro das 18 queixas e 18 pessoas do que se verificou o ano anterior. Ao que se lê o MECI informou estar em preparação uma proposta de lei sobre a matéria envolvendo vários Ministérios e a ser oportunamente enviada à Assembleia da República.
Andam negros os tempos para os
professores. Repetindo-me, sempre que escrevo sobre esta questão, agressões ou
insultos a professores e dadas as circunstâncias faço-o com regularidade, é
sempre com preocupação e mal-estar, mas é preciso insistir pelo que retomo
notas já aqui referidas, não me parece necessário encontrar outras palavras
para tratar a mesma questão.
As notícias sobre agressões a
professores, cometidas por alunos ou encarregados de educação, continuam com
demasiada frequência embora nem todos os episódios sejam divulgados. Aliás, são
conhecidos casos de direcções que desincentivam as queixas dado o “incómodo” e
“publicidade negativa” para a escola que trará a divulgação e ouvem-se discurso
de relativização. Aliás, na peça do JN é referida esta questão.
Os testemunhos de professores
vitimizados são perturbadores e exigem atenção e intervenção.
Cada um dos recorrentes episódios
poderá ser um caso de polícia, mas não pode ser “apenas” mais um caso de
polícia e julgo que, para além de ser notícia, importaria reflectir nos
caminhos que seguimos.
Esta matéria, embora seja objecto
de rápidos discursos de natureza populista e securitária, parece-me complexa e
de análise pouco compatível com um espaço desta natureza.
Justifica-se uma breve reflexão
em torno de três eixos: a imagem social dos professores, a mudança na percepção
social dos traços de autoridade e o sentimento de impunidade que me parecem
fortemente ligados a este fenómeno.
Já aqui tenho referido que os
ataques, intencionais ou não, à imagem dos professores, incluindo parte do
discurso de gente dentro do universo da educação que tem, evidentemente,
responsabilidades acrescidas e também o discurso que muitos opinadores profissionais,
mais ou menos ignorantes ou com agendas implícitas, produzem sobre os
professores e a escola, contribuíram para alterações significativas da
percepção social de autoridade dos professores, fragilizando-a seriamente aos
olhos da comunidade educativa, sobretudo, alunos e pais. Também com demasiada
frequência os discursos produzidos pela tutela sobre os professores que são
parte do problema e não contributo para a solução.
Esta fragilização tem, do meu
ponto de vista, graves e óbvias consequências, na relação dos professores com
alunos e pais.
No entanto, importa registar que
a classe docente é dos grupos profissionais em que os portugueses mais confiam
o que me parece relevante.
Em segundo lugar, tem vindo a
mudar significativamente a percepção social do que poderemos chamar de traços
de autoridade. Os professores, entre outras profissões, polícias ou
profissionais de saúde, por exemplo, eram percebidos, só pela sua condição de professores,
como fontes de autoridade. Tal processo alterou-se, o facto de se ser
professor, já não confere, só por si, “autoridade” que iniba a utilização de
comportamentos de desrespeito ou de agressão. O mesmo se passa, como referi,
com outras profissões em que também, por razões deste tipo, aumentam as
agressões a profissionais da área da saúde, médicos e enfermeiros.
Finalmente, importa considerar,
creio, o sentimento de impunidade instalado em Portugal de que não acontece
nada, faça-se o que se fizer. Este sentimento que atravessa toda a nossa
sociedade e camadas sociais é devastador do ponto de vista de regulação dos
comportamentos, ou seja, podemos fazer qualquer coisa que não acontece nada, a
“grandes” e a “pequenos”, mas sobretudo a grandes, o que aumenta a percepção de
impunidade dos “pequenos”.
Considerando este quadro, creio
que, independente de dispositivos de formação e apoio, com impacto quer
preventivo, quer na actuação em caso de conflito, obviamente úteis, o caminho
essencial é a revalorização da função docente tarefa que exige o envolvimento
de toda a comunidade e a retirada da educação da agenda da partidocracia para a
recolocar como prioridade na agenda política.
Definitivamente, a valorização
social e profissional dos professores, em diferentes dimensões é uma ferramenta
imprescindível a um sistema educativo com mais qualidade sendo esta valorização
uma das dimensões identificadas nos sistemas educativos mais bem considerados.
É ainda fundamental que se
agilizem, ganhem eficácia e sejam divulgados os processos de avaliação ou
julgamento e a punição e responsabilização sérias dos casos verificados, o que
contribuirá para combater, justamente, a ideia de impunidade.
1 comentário:
A destruição da Palavra – isto é, o desmoronamento do signo, que, de Ockham a Husserl se constituiu numa unidade apodítica no discurso da Evidência; expressa, por exemplo, na questão «cartesiana» do signo (o índex sui et veri) – permite ao Impronuncialismo olhar o Tudo de um patamar acima do Todo.
Por exemplo, o Impronuncialismo mostra à evidência, que:
--- Todas as antonomásias são apostólicas. Adredam como alpondras, como antífonas. Transformam os auspícios em apanágios avoengos, e os avitos numa apodicticidade alvinitente. Esta azafata de alteridade, é como de um amercear se tratasse. E assim sucessivamente. (IMPRONUNCIÁVEL)
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