Às medidas já anunciadas no âmbito do “Plano + Aulas, + Sucesso” tentando cativar para a função docente estudantes dos mestrados de educação, bolseiros de doutoramento, docentes em fim de carreira que a queiram prolongar e docentes já aposentados que queiram regressar à sala de aula, o MECI acrescentou duas novas iniciativas, subsídio de deslocação aos professores e a realização de um concurso extraordinário de vinculação.
Apesar de não parecer muito
feliz, talvez a campanha de marketing realizada possa vir a conhecer algum
sucesso tal como estas medidas que, sendo positivas, também no caso do subsídio
de deslocação criará certamente algum mal-estar pois muitos professores
realizam deslocações superiores às previstas nas medidas sem que tenham
qualquer tipo de apoio.
Continuo a pensar que, apesar de
compreender a urgência da situação e a forte probabilidade de continuarmos a
ter muitos alunos sem aulas gerando, a necessidade de em muito curto prazo
minimizar os problemas, só uma abordagem estrutural pode ter potencial de
mudança sustentada.
Nesta perspectiva, julgo
absolutamente necessário que as políticas públicas de educação assumissem como
um eixo nuclear a valorização da carreira docente, dos professores.
É claro que mudanças estruturais
têm custos e relembro a necessidade de investimento sério em educação, 6% do
Produto Interno Bruto o que está definido pela UNESCO como meta para 2030.
Só a sua valorização pode tornar
a carreira docente atractiva e com um potencial de retenção e satisfação dos
que nela se integram.
Esta valorização passa,
evidentemente, pela valorização salarial, mas importa considerar também
dimensões como a definição de modelos de carreira e de avaliação justos,
simplificados e transparentes e promotores de estabilidade.
Importa que a valorização dos
professores resista ao risco de “deskilling” ou “desprofissionalização” através
de mudanças nas exigências da habilitação para a docência.
Importa que se definam dispositivos
de apoio ao exercício profissional em contextos mais exigentes.
É crítico que se desburocratize o
exercício da docência com gastos brutais de tempo e esforço sem retorno
pertinente.
Conhecendo o que acontece em
muitos territórios educativos talvez seja de começar a reflectir sobre o modelo
de governança das escolas e agrupamentos que parece excessivamente dependente
da competência de cada direcção criando assimetrias profissionais e climas
institucionais menos favoráveis ao trabalho de alunos, professores e técnicos. Sucessivas
equipas do ME não consideram esta questão e percebe-se a razão, a gestão
política do sistema.
Julgo claro que mudanças neste
sentido não são fáceis e que será sempre difícil um caminho de concordância
generalizado, mas também tenho a convicção de que medidas conjunturais, mais
positivas ou menos ajustadas, concebidas por ciclos políticos continuarão,
apesar, de alguns ajustamentos, a “mexer” na conjuntura e a não alterar
substantivamente a estrutura que alimenta … as conjunturas.
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