Leio no Público que diversas organizações da sociedade civil divulgaram e chama a atenção para o aumento do risco de pobreza entre as crianças portuguesas requerendo a atenção das políticas públicas sectoriais. De acordo com os dados mais recentes do INE referentes a 2023 revelam "um aumento da taxa de pobreza infantil com 347 mil crianças em risco de pobreza monetária". "São mais 44 mil do que no ano anterior", de referem os subscritores desta iniciativa.
É ainda de registar que a
"taxa de risco de pobreza infantil em 2023 foi de 20,7%",
correspondendo a um regresso aos valores de 2017, o que coloca as crianças como
o "grupo etário que regista a maior taxa de risco de pobreza e também
aquele em que se observa uma evolução mais desfavorável deste indicador",
Refere-se também que um estudo
realizado pela EPIS – Empresários para a Inclusão Social revela que 20 em cada
100 alunos provenientes de famílias desfavorecidas reprovam de ano durante o
2.º e 3.º ciclos do ensino básico.
Também no acesso e frequência do ensino superior se repercute fortemente as circunstâncias socio-económicas familiares
Ainda uma referência a dados do Eurostat
que aqui abordei em Junho. Em Portugal, no final de 2023 viviam 339 mil crianças
em risco de pobreza ou de exclusão social, cerca de 22,6% da população com
menos de 18 anos. Relativamente a 2022 verifica-se um aumento de 1,9%. Se
considerarmos a primeira infância, até aos 6 anos, a taxa de risco é de 21,6%,
um aumento de 4%, mais 25 mil crianças.
Parece, assim, que estamos longe
de conseguir minimizar os riscos de pobreza e exclusão importa insistir e
apelar a que estas matérias constituam preocupações sérias das políticas
públicas em diversas áreas.
Sabemos que a educação tem um
papel crítico neste processo. Retomando notas que aqui recentemente deixei, recupero
o relatório, “Portugal, Balanço Social 2023”, realizado pela Nova SBE Economics
for Policy. De acordo com o trabalho, 82% das crianças pobres com três anos ou
menos não frequentam pelo menos 30h de creche. Também no intervalo entre 4 e 7
anos são também as crianças mais pobres que não frequentam educação
pré-escolar.
Apesar da gratuitidade da
frequência da creche em 2022, a insuficiência de vagas dificulta o acesso das
famílias de menor rendimento apesar de alguns efeitos decorrentes do Programa
Creche Feliz.
Está bem estudada a relação entre
a situação económica, laboral e nível de literacia familiar no trajecto
pessoal.
Também sabemos que a pobreza tem
claramente uma dimensão estrutural e intergeracional, as crianças de famílias
pobres demorarão até cinco gerações a aceder a rendimentos médios, um indicador
acima da média europeia.
A escola é certamente uma
ferramenta poderosa de promoção de mobilidade social, mas, por si só,
dificilmente funciona como elevador social.
O impacto das circunstâncias de
vida no bem-estar das crianças e em aspectos mais particulares como o
rendimento escolar ou o comportamento é por demais conhecido e essas
circunstâncias constituem, aliás, um dos mais potentes preditores de insucesso
e abandono quando são particularmente negativas, como é o caso de carências
significativas ao nível das necessidades básicas.
Não podemos falhar.
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