O universo da educação é por natureza um universo em permanente agitação que, se por um lado pode ser sinal de vitalidade, por outro introduz ruído que tem efeito nas comunidades educativas.
A direcção da Escola Secundária
Pedro Nunes decidiu divulgar um “dress code” solicitando aos alunos(as) a
utilização de “vestuário adequado” o que significa não utilizar “calções
curtos, decotes excessivos e calçado de praia”. O seu não cumprimento pode
impedir a realização de exames.
Como aconteceu noutras escolas em
que existiram iniciativas semelhantes a decisão gera controvérsia quer em pais,
quer noutros elementos da comunidade educativa estando em dúvida o seu
enquadramento legal.
Sem desvalorizar a questão, mas
pensando nas problemáticas actuais nas comunidades educativas, lembrei-me de
Almada Negreiros em a Cena do Ódio “e qu'inda foste inventar submarinos, p'ra
te chateares também por debaixo d'água”.
Na verdade, creio que precisamos
de alguma serenidade. Os miúdos nesta fase, pré-adolescência e adolescência,
estão a construir uma identidade, a sua. Tal “trabalho” passa, em todas as
épocas (lembremo-nos da recusa da gravata nos anos 50, das mini-saias dos anos
60, dos cabelos às cores dos anos 80, dos piercings a seguir, etc.), pela
tentação de andar nos limites do instituído, linguagem, vestuário, “aspecto
visual”, música, consumos, etc. Este tipo de funcionamento, quase sempre
transitório, presente, de forma mais ou menos evidente, na generalidade dos
adolescentes levanta algumas inquietações aos adultos que, à falta de melhor
solução, têm a tentação de proibir, o que se compreende. Também me lembro de me
terem proibido socas, a camisa por fora das calças e cabelo comprido. Mas só
proibir é tapar o Sol com a peneira. Claro que muitos pais ficam contentes com
o facto de a escola proibir algo que eles gostavam de proibir, mas que não se
sentem capazes, assim a escola compra, por eles, a “briga” com os filhos.
Por outro lado, é fundamental
para os próprios adolescentes que percebam claramente que “não vale tudo” ao
abrigo de discursos como, são direitos individuais, veste-se, fala-se e faz-se
o que se quer, é um caso de liberdades individuais, considero este argumentário
uma espécie de delinquência educativa. A vida em sociedade e o respeito por
regras sociais obriga a que ninguém de nós possa fazer sempre o que quer,
quando quer, onde quer, da forma que quer, etc. Construir de forma sensata
estas balizas reguladoras é uma tarefa indispensável ao desenvolvimento e à
formação.
O que quero simplesmente dizer é
que, muito para lá das proibições, ou em vez das proibições, trata-se de
construir valores, capacidade de auto-regulação dos comportamentos por parte
dos jovens, de construção conjunta dos necessários códigos de conduta e de
sermos capazes de discriminar o essencial do acessório.
Não é a dimensão dos calções ou a calça descaída que determinam os problemas ou comportamentos que possam verificar-se.
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