Ontem, no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril a minha escola, o ISPA – Instituto Universitário, organizou um encontro com a participação de docentes, alunos e ex-alunos e com extraordinária actuação do Coro dos Anjos.
Tive a generosidade de um convite
para uma intervenção recordando que estava no primeiro ano do curso em 1973/1974, os
anos não perdoam.
Na troca de ideias sublinhei a
gratidão que sinto e o impacto pessoal que teve o 25 de Abril, aquele 25 de Abril.
Na altura, o ISPA era a única
escola para formação em psicologia, mas ainda sem o curso reconhecido pelo ME.
Esta situação implicava que enquanto aluno não poderia pedir adiamento no
cumprimento do serviço militar.
Ainda assim e dado que não tinha
meios nem vontade de ir para fora, arrisquei mas com a decisão tomada de
que estava fora de questão combater na guerra colonial.
O reconhecimento do curso pelo ME
e as consequências do 25 de Abril possibilitaram a finalização do curso e nem
sequer ter acabado por cumprir serviço militar obrigatório que agora algumas
vozes parecem querer ressuscitar.
Sublinhei ainda que os
acontecimentos de 1974 e a ligação já como docente possibilitaram uma das mais
extraordinárias experiências na minha vida, o encontro com uma figura
absolutamente notável, o artista moçambicano Malangatana. A certa altura
ligou-se ao ISPA e acabei por ter o privilégio de, para além dos contactos em Lisboa, ter passado algum tempo com
ele em Maputo e, sobretudo, num centro que criou em Matalana, zona do seu
nascimento. Foram tempos notáveis, trabalho com professores das escolas da zona
que se deslocavam quilómetros a pé para participar em conversas comigo e com o
Velho, como eu chamava ao Mestre Malangatana, reuniões com os mais velhos a
quem Malangatana não queria deixar de pedir conselhos sobre os passos a dar,
horas e horas a passear durante a noite pelas ruas de Maputo a ouvir a extraordinária
história de vida de um homem que era apanha-bolas no clube de ténis e se tornou
um artista e uma figura notável e inesquecível.
Serões passados depois da janta
no Piri-Piri com o Velho a desenhar no inseparável bloco depois de salpicado
com umas gotas do seu inseparável gin e a conversarmos sobre o tanto que estava
por fazer para criar um futuro melhor para as crianças moçambicanas.
Já contei aqui no blogue algumas
das histórias vividas com o Malangatana, mas é impossível contar tudo o que
ficou comigo nesta experiência.
Como disse, só o 25 de Abril de
1974 permitiu que ela acontecesse, sem guerra e com uma relação com uma figura
inigualável que continua comigo. Obrigado Velho.
Gostei muito de ouvir os
testemunhos de alunos e de ex-alunos que, quero acreditar, serão capazes de
manter e lutar por algo que parece estar outra vez sob ameaça, a democracia, a
tolerância, a promoção do bem-estar de todos, a inclusão e direitos, etc.
Finalmente, uma nota para
actuação do Coro dos Anjos. Recorrendo ao cancioneiro português e a temas
próprios foi notável o que ouvimos por um grupo comprometido com o seu tempo e
com as pessoas.
Deve ser da idade, mas 50 anos
depois eu e a minha mulher ainda nos emocionámos com a Grândola Vila Morena cantada
por toda a gente.
Foi bonita a festa pá.
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