quarta-feira, 7 de setembro de 2011

PELA NOSSA SAÚDE

A área da saúde foi identificada como uma das que mais sofrerá os cortes financeiros. Têm-se discutido aspectos relativos aos medicamentos, às taxas moderadoras, aos transplantes, etc. O Ministro da Saúde referiu que existirão 1,7 milhões de pessoas sem médico de família.
A preocupação com a doença, sobretudo numa população envelhecida, está permanentemente na cabeça das pessoas e, naturalmente, não estou a falar de hipocondria. Se a este peso acrescer o facto de que não terem um médico de família acessível, que conheçam, que as conheça e com quem, desejavelmente, mantêm uma relação de confiança as pessoas sentem-se fortemente vulneráveis e impotentes.
Assente no fundamental direito à saúde e na imprescindibilidade do SNS a inexistência de médico de família é inaceitável. Como é também reconhecido, a maior parte das pessoas nesta situação não terá grandes possibilidades de recurso a serviços privados.
Não sei se algum de vós já passou por esta situação, eu estive durante cerca de dois anos sem médico de família. Sei que sou um privilegiado e acabei por recorrer à medicina privada até para prescrição de exames de rotina que depois deixo no Centro de Saúde, onde volto dias depois para levantar as prescrições, agora já passadas por um médico do SNS que eu não conheço, que não me conhece e não me viu. Então já posso realizar os exames.
Das duas ou três vezes que me dirigi ao Centro de Saúde para marcar uma consulta, depois de um tempo razoável de espera, a resposta foi invariavelmente, “Olhe, para as próximas duas semanas nem vale a pena, experimente depois vindo assim cedinho”. Informei-me e o “cedinho” teria que ser sempre bem de madrugada. Eu desisti, há quem não possa.
Gostava também de referir algumas notas de um estudo realizado pela DECO sobre a acessibilidade dos portugueses aos serviços de saúde em 2009/2010.
Em primeiro lugar, seis em cada dez famílias exprimem dificuldades em suportar as despesas com a saúde. Destas, quase metade adiaram o início de terapias e cerca de 40% nem pondera iniciá-las por questões económicas. Cerca de 20% contraíram créditos para este efeito. Sabemos também que contamos com cerca de 18% de pessoas em situação de risco de pobreza, sendo que entre a população idosa o número é maior, 22%.
Este cenário evidencia as dificuldades enormes que milhões de portugueses sentem no que respeita ao acesso a um direito, o direito a cuidados básicos de saúde, sendo também reconhecida existência de dificuldades do acesso a alguns actos médicos originando listas de espera muito significativas em várias especialidades clínicas.
Este quadro evidencia como um Serviço Nacional de Saúde eficaz é imprescindível. Embora me pareça razoável que se estudem modelos mais equitativos e sustentáveis, que possam implicar algum custo de natureza diferenciada para alguns de nós, mas que não promovam mais discriminação.

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