sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A MAFALDA E O MESTRE ALMADA NEGREIROS

Pode parecer-vos estranha esta associação da Mafalda, a personagem criada por Quino, com o Mestre Almada Negreiros, um dos, entre vários outros, mal-amados da cultura portuguesa. A ver se consigo explicar esta bizarra aproximação.
Primeiro, recordar uma cena em que a Mafalda, ao ver o ar pensativo do irmão Gui, o questionou sobre o que o fazia pensar. O Gui respondeu que andava desconfiado de que o professor dele, quando fazia perguntas aos alunos, já sabia a resposta, comportamento que lhe parecia um bocado esquisito.
Por outro lado, na Invenção do Dia Claro, Almada Negreiros dizia, "Nós não somos do século de inventar palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século de inventar outra vez as palavras que já foram inventadas”.
Estes dois enunciados ocorreram-me ao olhar para como mundo está a correr à nossa volta. Tudo o que está a acontecer parece resultar das respostas velhas a perguntas, também elas já velhas, porque assentes em fórmulas velhas e que nos conduziram ao que estamos a assistir. Não vale a pena como dizia o Gui, fazer perguntas de que já sabemos as respostas, vão alimentar o que já temos, sem mudança.
Creio que a questão essencial nos nossos dias, nestes tempos de inquietação, se coloca nos termos utilizados pelo Mestre Almada. Temos as palavras, não precisamos de outras palavras. Temos de utilizá-las para fazer novas perguntas, para encontrar novas respostas. Se ficarmos à espera, os donos do mundo continuarão apenas a fazer as perguntas de que eles já sabem a resposta. E nós também.
Basta olhar à volta.

2 comentários:

Anónimo disse...

"Se não sabe porque é que pergunta?"

Livro de João Sousa Monteiro & João dos Santos. Obrigatório.

Já o Almada Negreiros, um homem que concorreu à campanha de inauguração do metropolitano com o slogan " Vá de metro Santanás!", foi um Génio.

Abraço
António Caroço

Zé Morgado disse...

Amigo António, Bem preciso se torna recordar a voz de dois homens, João dos Santos e Almada Negreiros.
um abraço