quinta-feira, 8 de setembro de 2011

UM HOMEM DO AVESSO

Era uma vez um Homem que vivia do avesso, diziam as pessoas. Tudo começou cedo. Em pequeno, o Homem chorava e fazia birras. Os pais exclamavam “é mesmo ao avesso, não se cala com nada”.
Quando entrou na escola, a situação manteve-se pois o Homem tinha tendência para fazer tudo ao contrário do que lhe pediam, falava quando era para estar calado, imaginava quando era para copiar, protestava com facilidade e ria-se quando devia estar sério. Os professores sempre acharam que tinham um aluno do avesso.
Quando acabou de crescer, do avesso continuava, achava toda a gente. Arranjou um emprego esquisito, ganhando pouco, mas também trabalhando pouco, para ter tempo para ler. Ainda protestava, quando o tempo era de estar calado. Aliás, passava o tempo a dizer que as pessoas se calavam a tudo o que lhes acontecia. Nunca teve um carro e passava as curtas férias num banco de jardim onde continuava os seus protestos. Toda a gente achava que o Homem continuava do avesso.
Um dia, cansado, resolveu calar-se definitivamente. Ninguém mais lhe ouviu uma palavra.
As pessoas afirmavam, “agora é um tipo às direitas” e o Homem ficou infeliz para sempre. E do avesso.

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