quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO NÃO DEPENDE DA QUANTIDADE DE EXAMES

No Público pode ler-se que de acordo com o MEC os exames do 6º ano terão um peso de 25%, admitindo-se que posteriormente suba para 30%. Em entrevista ao CM, a Secretária de Estado do Ensino Básico reafirma a intenção de estender a realização de exames nacionais ao 1º ciclo o que não constitui surpresa, consta do programa do governo e vai ao encontro do discurso recorrente do Professor Nuno Crato.
Conheço estas posições mas ainda não percebi como é que, objectivamente, a introdução de mais exames contribui para a qualidade da educação em termos genéricos e torna mais bem sucedido o trabalho de alunos e professores, partindo do princípio de que os exames não servirão para promover "administrativamente" (por assim dizer) bons resultados. Os discursos que oiço na defesa dos exames não explicitam os ganhos de que aí advirão em termos de qualidade. A Secretária de Estado refere que é importante que os meninos se habituem a realizar provas de conhecimento. Também acho mas para isso são necessários exames nacionais?
Defender que a qualidade emerge só porque se realizam mais exames parece decorrer da estranha convicção de que se medir muitas vezes a febre, esta irá baixar o que é, no mínimo, ingénuo.
A introdução de mais exames como panaceia da qualidade promove, do meu ponto de vista, o risco do trabalho escolar se organizar centrado na preparação dos alunos para a multiplicidade de exames que realizam, ou seja, como me dizia há tempos um professor do ensino secundário, "o trabalho com os alunos é muito interessante mas a partir de certa altura sou eu e eles contra os exames".
A qualidade promove-se, é certo e deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, naturalmente, mas também com a avaliação do trabalho dos professores, com a definição de currículos adequados e de vias diferenciadas de percurso educativo para os alunos sempre com a finalidade de promover qualificação profissional, com a estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados de organização e funcionamento das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc. O problema é que de há muitos anos a educação anda à deriva das agendas políticas.
A defesa de mais exames, como muitas vezes é feita, corre o risco de sustentar um discurso demagógico, as referências a exigência e a rigor vendem bem, que deixa de lado os aspectos mais essenciais, a necessidade de promover qualificação para todos, sublinho todos, os alunos. Esta qualificação pode obter-se em diferentes níveis, desde o curso profissionalizante de curta duração até ao doutoramento. E nesta perspectiva continuo pouco convencido da imprescindibilidade de mais exames.

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