quarta-feira, 10 de outubro de 2007

INSTITUIÇÃO A MAIS E PESSOA A MENOS

Uma das maiores conquistas das sociedades modernas, democráticas e abertas é a defesa e promoção das liberdades e direitos individuais sustentando a afirmação da autonomia de cada indivíduo e da sua capacidade de autodeterminação, ainda que inscrito em diferentes redes sociais. Esta arrevesada introdução serve para me referir à inquietação de hoje, uma excessiva “institucionalização” da nossa vida.
Já esta semana soubemos que continuamos com um número altíssimo de crianças e jovens institucionalizados, muitos dos quais sem projecto de vida. Soubemos hoje que cerca de 80% dos doentes mentais internados têm essa condição há mais de um ano. Temos uma altíssima taxa de presos preventivos. Temos os alunos que mais tempo passam em instituições escolares. Temos os velhos cada vez mais institucionalizados. Temos práticas e comportamentos que são autênticas instituições como a corrupção, a fuga e fraude fiscal, a má condução, o cataventismo da maioria dos nossos políticos, a promiscuidade entre futebol, política e autarquias, etc. Temos ainda figuras que, por diferentes razões, são também verdadeiras instituições como o Dr. Lopes, o menino guerreiro agredido pelos irmãos desde a incubadora e agora um humilde soldado, o Major Valentim, conhecido distribuidor de electrodomésticos, o Professor Marcelo (o maior dos entertainers políticos), o Sr. Pinto da Costa, angelical e desinteressado ofertante de lembranças, o Sr. Luís Filipe Vieira, o líder da maior instituição portuguesa, o Glorioso, etc. Temos ainda completamente institucionalizadas uma taxa de desemprego demasiado alta e uma taxa de endividamento familiar cada vez mais pesada, e, finalmente, a mais deprimente das instituições, a descrença.
É. Temos cada vez mais instituição e cada vez menos pessoa.

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