quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

ENTRE O AVISO E A AUTO-AJUDA

Algures entre Paulo Coelho e Laurinda Alves, com uma pitada da matriz judaico-cristã do discurso de D. José Policarpo, a homilia de Ano Novo do Presidente da República parece um bom exemplo de discurso de auto-ajuda, assente na ideia peregrina de que juntos vamos lá, temos que ser amiguinhos, não podemos discordar mas convergir, etc. No entanto, algumas notas devem reter-se, sobretudo, a exigência sobre seriedade no discurso político.
É verdade que alertar para dificuldades é importante, mas parece desnecessário, basta ouvir as pessoas. É importante referir a situação de pessoas ou grupos mais vulneráveis e desprotegidos mas estão identificados, as instituições que operam no terreno conhecem o cenário. É de sublinhar a chamada de atenção para os vendedores de ilusões e para o realismo na abordagem das questões.
No entanto, a grande questão é a exigência de políticas eficazes, definição de prioridades, reordenamento de prioridades e afectação de recursos e com forte componente social. Como exemplos, sim ao investimento público em projectos macros e localizados, aeroporto e TGV, ou sim ao investimento público mais disperso, em projectos mais pequenos e potencialmente mais direccionável para áreas geográficas em maior dificuldade? Abaixamento da carga fiscal ou distribuição posterior de apoios em ano eleitoral?
Bem sei que não compete ao Presidente governar, mas compete ao presidente uma visão sobre o desenvolvimento do País e o país deve saber qual é. Também compete ao Presidente estimular a participação e exigência fiscalizadora dos cidadãos sobre a acção governativa. Se houver divergências, tanto melhor, clarificam-se projectos e, como sabem, vamos ter eleições, os portugueses escolherão.

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