Uma peça do Público de hoje deixou-me surpreendido e, simultaneamente, levou-me numa viagem no tempo que, como sabem, é uma tentação frequente dos mais velhos.
Li que a campeã mundial de matraquilhos
é portuguesa, Ângela Silva, da Covilhã, sendo que existem outros praticantes de
alto nível.
Na verdade, desconhecia a
existência desta modalidade enquanto tal e o desempenho notável alguns
praticantes. Aqui fica a felicitação.
Por outro lado, andei muito para
trás no tempo, a entrada na adolescência quando os matraquilhos era uma
actividade muito comum para muitos de nós.
Não tínhamos telemóveis,
computadores e mesmo os brinquedos mais sofisticados estavam longe das bolsas
de muitos pais, incluindo os meus.
Os matraquilhos eram uma
tentação, mas também era preciso ter a moedinha. Muitas vezes fazíamos viagens
a pé de casa para Almada ou volta para poder jogar aos “matrecos”.
Lembro-me de em Almada jogar no
café Ver Cruz e ter a sorte de ter um parceiro, o Zé Miguel, cigano, que era
uma máquina a jogar à frente e eu desenrascava-me na defesa. Muitos lanches
tivemos à conta da habilidade ofensiva do Zé Miguel e, claro, da minha solidez
defensiva.
Também na minha terra, Feijó, nome
muito referido diariamente nas rádios de devido às filas de trânsito para a ponte
25 de Abril que estão muitas vezes perto das pontes do Feijó, jogávamos
matraquilhos na Tasca do Manel.
Recordo ainda os matraquilhos
porque, ainda miúdo, conseguíamos tirar, por assim dizer, uma bola para,
imaginem, jogar hóquei em patins, modalidade em alta naquele tempo.
Claro que ninguém de nós tinha
patins nem sticks. Recorríamos a uns talos de couve com uma curva que pudesse
fazer de stick ou construíamos em madeira, solução mais frágil.
Eram tempos outros. Quando conto
estas histórias aos meus netos fico com a sensação de que estão a ouvir (imaginar)
ficção científica ao contrário.
Que a Ângela Silva e todos os
praticantes sejam bem-sucedidos.