A Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência divulgou dados relativos a 22/23 da medida Apoio Tutorial Específico que, sem surpresa, mostram resultados positivos. Importa registar, que nem todas escolas aderem a programas desta natureza, existe um problema sério nos recursos docentes disponíveis e são identificados alguns constrangimentos.
Os modelos de natureza tutorial,
conforme as boas práticas já existentes em muitas escolas e os estudos
nacionais e internacionais sustentam, são ferramentas sólidas e eficazes para
acomodar e responder a dificuldades de alunos e professores nos processos de
ensino e aprendizagem.
Defendo de há muito dispositivos
desta natureza até como forma de gerir de forma adequada os recursos docentes
já integrados no sistema e que manifestamente podem ser utilizados em programas
de tutoria ou coadjuvação. Aliás, é também interessante o recurso a alunos para
programas de tutoria com vantagens recíprocas, para tutores e para tutorandos.
Existem ainda outras iniciativas
com o envolvimento de entidades exteriores à escola que também se podem
integrar neste tipo de intervenção.
No entanto, e como afirmo desde o
início, o Programa de Tutoria em desenvolvimento, da forma como está desenhado,
quatro horas semanais por professor tutor para 10 alunos como princípio, e
considerando o perfil de intervenção definido e que julgo adequado, tem
evidentes constrangimentos. No entanto, também já estamos habituados a que o
empenho, competência e profissionalismo da generalidade dos professores
minimizem insuficiências que ninguém estranhará. No entanto, não existem
milagres e a negação de dificuldades ou exercícios de “wishfull thinking” não
resolvem os problemas.
Recordemos as funções atribuídas.
a) Reunir nas horas atribuídas
com os alunos que acompanha;
b) Acompanhar e apoiar o processo
educativo de cada aluno do grupo tutorial;
c) Facilitar a integração do
aluno na turma e na escola;
d) Apoiar o aluno no processo de
aprendizagem, nomeadamente na criação de hábitos de estudo e de rotinas de
trabalho;
e) Proporcionar ao aluno uma
orientação educativa adequada a nível pessoal, escolar e profissional, de
acordo com as aptidões, necessidades e interesses que manifeste;
f) Promover um ambiente de
aprendizagem que permita o desenvolvimento de competências pessoais e sociais;
g) Envolver a família no processo
educativo do aluno;
h) Reunir com os docentes do
conselho de turma para analisar as dificuldades e os planos de trabalho destes
alunos.
Quem conhece a actual realidade
das escolas e as problemáticas complexas dos alunos em insucesso, com
desmotivação, desregulação de comportamento, ausência de projecto de vida,
falta de enquadramento e suporte familiar, lacunas graves nos conhecimentos
escolares de anos anteriores, etc., quase sempre presentes e só para referir
dimensões relativas aos alunos, percebe a dificuldade de reverter, para usar um
termo em voga, o seu trajecto escolar.
À luz do que me parece ser um
trajecto de defesa da efectiva autonomia das escolas, preferia que, dando o ME
orientação e a possibilidade de gerir e alocar recursos a estes programas, que
fossem as escolas a organizar os seus programas de tutoria, definindo
destinatários, professores e técnicos envolvidos, tempos de realização e
objectivos a atingir.
Caberia, evidentemente, às
escolas e ao ME a regulação e acompanhamento dos programas e a sua avaliação.
Sabemos, é uma referência comum,
a existência de “constrangimentos” sérios que pesam nos recursos disponíveis.
Neste cenário parece claro que que muitos professores que não conseguem a
vinculação o poderiam fazer para poder alargar este dispositivo de apoio a mais
alunos. As decisões em matéria de política pública de educação têm exactamente essa
função, minimizar problemas e gerir da melhor forma os recursos. A questão dos
custos nesta matéria não me parece relevante face aos potenciais benefícios. A ver vamos o que traz o novo ciclo político.
No entanto, mais uma vez e não esquecendo a necessidade de combater desperdício e ineficácia, é bom recordar que a qualidade da educação e a promoção do sucesso para todos os alunos não representam despesa, são investimento. Importa reforçar que estou a falar de sucesso traduzido em competências e conhecimentos adquiridos, não em sucesso fabricado e não confirmado pelos dispositivos de avaliação externa.
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