Dia de eleições. Não consigo evitar que em todos os dias que se realizam eleições me lembre dos dois primeiros actos eleitorais em que me envolvi e sei bem por que razão os recordo. E hoje, mais do que nunca, assim é.
Em primeiro lugar, as eleições
para a então Assembleia Nacional em Outubro de 1969, durante a chamada
“Primavera” Marcelista, tempo que aparentava uma pequena abertura no regime.
Concorreram a União Nacional, a Comissão Eleitoral de União Democrática, a Comissão
Eleitoral Monárquica e a Comissão Democrática Eleitoral. Participei em algumas
acções durante esta campanha embora ainda não pudesse votar.
Lembro-me de assistir a alguns
comícios muito bem vigiados pela polícia política e enquadrados pelas forças
policiais, lembro-me por exemplo da interrupção, por decisão policial, de uma
acção em Almada em que participava José Afonso, lembro-me de alguns “incómodos”
na família e em famílias conhecidas causados pelo envolvimento nestas
actividades. Por curiosidade e para os mais novos, a União Nacional, o
“partido” do regime ficou “surpreendentemente” com a totalidade dos 130
deputados eleitos. (Como curiosidade e para comparação com os tempos actuais os
resultados foram assim divulgados na RTP na noite das eleições).
O segundo acto eleitoral de que
sempre me lembro foi o que se realizou em 1975 para a Assembleia Constituinte,
as primeiras eleições livres. Um dia que com muita luta tardou em chegar e
absolutamente inesquecível.
Creio que já aqui referi, passei
uma manhã inteira numa interminável fila para, finalmente, poder votar, pela
primeira vez, sem constrangimentos. Na rua, a gente falava de votar como de
algo mágico. A abstenção foi de 8,34%, o
valor mais baixo de todas as eleições depois realizadas. Desde esse tempo muita
coisa se passou, umas mais bonitas, outras menos bonitas, os últimos tempos têm
sido particularmente feios, mas é bom não esquecer.
Hoje, provavelmente, estaremos
também a votar com o objectivo de mostrar que não valorizamos, não queremos, as
figuras sinistras que ameaçam estes tempos. Conhecemos bem demais o que
representam para que possamos aceitar que venham a poder decidir sobre nós.
Façam o que quiserem com o voto,
e esta é a questão essencial, eu faço o que quero com o meu voto. Também me
parece que seria bom que os partidos que têm vindo a transformar a democracia
numa partidocracia capturando consciências e participação cívica não se
esquecessem.
Pouco a pouco começamos a guardar
os nossos votos e decidimos não os dar a ninguém, sobe a abstenção, ainda assim
uma decisão nossa, má decisão, mas nossa.
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