domingo, 10 de março de 2024

DIA DE ELEIÇÕES

 Dia de eleições. Não consigo evitar que em todos os dias que se realizam eleições me lembre dos dois primeiros actos eleitorais em que me envolvi e sei bem por que razão os recordo. E hoje, mais do que nunca, assim é.

Em primeiro lugar, as eleições para a então Assembleia Nacional em Outubro de 1969, durante a chamada “Primavera” Marcelista, tempo que aparentava uma pequena abertura no regime. Concorreram a União Nacional, a Comissão Eleitoral de União Democrática, a Comissão Eleitoral Monárquica e a Comissão Democrática Eleitoral. Participei em algumas acções durante esta campanha embora ainda não pudesse votar.

Lembro-me de assistir a alguns comícios muito bem vigiados pela polícia política e enquadrados pelas forças policiais, lembro-me por exemplo da interrupção, por decisão policial, de uma acção em Almada em que participava José Afonso, lembro-me de alguns “incómodos” na família e em famílias conhecidas causados pelo envolvimento nestas actividades. Por curiosidade e para os mais novos, a União Nacional, o “partido” do regime ficou “surpreendentemente” com a totalidade dos 130 deputados eleitos. (Como curiosidade e para comparação com os tempos actuais os resultados foram assim divulgados na RTP na noite das eleições).

O segundo acto eleitoral de que sempre me lembro foi o que se realizou em 1975 para a Assembleia Constituinte, as primeiras eleições livres. Um dia que com muita luta tardou em chegar e absolutamente inesquecível.

Creio que já aqui referi, passei uma manhã inteira numa interminável fila para, finalmente, poder votar, pela primeira vez, sem constrangimentos. Na rua, a gente falava de votar como de algo mágico. A abstenção foi de 8,34%,  o valor mais baixo de todas as eleições depois realizadas. Desde esse tempo muita coisa se passou, umas mais bonitas, outras menos bonitas, os últimos tempos têm sido particularmente feios, mas é bom não esquecer.

Hoje, provavelmente, estaremos também a votar com o objectivo de mostrar que não valorizamos, não queremos, as figuras sinistras que ameaçam estes tempos. Conhecemos bem demais o que representam para que possamos aceitar que venham a poder decidir sobre nós.

Façam o que quiserem com o voto, e esta é a questão essencial, eu faço o que quero com o meu voto. Também me parece que seria bom que os partidos que têm vindo a transformar a democracia numa partidocracia capturando consciências e participação cívica não se esquecessem.

Pouco a pouco começamos a guardar os nossos votos e decidimos não os dar a ninguém, sobe a abstenção, ainda assim uma decisão nossa, má decisão, mas nossa.

Sem comentários: