No Expresso lê-se que o Governo britânico se prepara para legislar sobre a utilização de telemóveis nas escolas. Várias escolas já definiram restrições e a legislação será diferenciada desde a não utilização na escola à restrição em sala de aula incluindo professores e os contactos dos pais.
Vários países têm tomado iniciativas
neste sentido o que quase parece inevitável dada a forma como os telemóveis e
as suas possibilidades evoluíram e rapidamente massificaram a sua utilização,
desde os mais novos aos mais velhos, ainda que com níveis de competências e utilização
diferenciadas.
Ainda me lembro de há alguns anos
me interrogar se precisaria de um telemóvel e também me lembro de há algum
tempo, numa conversa com pais, uma mãe me perguntar a que idade eu entendia que
ela poderia dar um telemóvel à filha. Perguntei a idade, a gaiata tinha 5 anos,
mas, disse mãe, já muitas colegas da sala tinham e a filha também queria este
novo apêndice das nossas mãos.
Esta sobreutilização dos
telemóveis, em todos os ambientes, incluindo casa e escola, os riscos de
diferente natureza que são conhecidos e reconhecidos, têm vindo de forma cada
vez mais insistente a colocar a questão de a minimizar ou mesmo proibir.
Por outro lado, também temos a
percepção das potencialidades que estes dispositivos oferecem pelo que, sem
surpresa, temos uma questão complexa.
A UNESCO já divulgou algumas
orientações no sentido da limitação da utilização dos telemóveis nas escolas.
Noutros países, mas também em Portugal, vão surgindo escolas e agrupamentos que
vedam a sua utilização no espaço escolar, incluindo intervalos e sabemos que o
ME pediu ao Conselho de Escolas um parecer sobre esta questão que se aguarda.
Estarão em causa variáveis como a
idade dos alunos, os espaços de utilização ou proibição e as actividades em que
poderão, ou não, ser permitida a utilização dos telemóveis.
Parece-me particularmente
interessante que esta pertinente discussão ocorra em plena época de
deslumbramento com a chamada “transição” digital que, tem como medida
emblemática a realização universal das provas de aferição do 2º ano
(basicamente crianças com 7 anos) em formato digital. Numa nota pessoal estou
atento a este processo no qual está envolvido o meu neto pequeno que está no 2º
ano.
Muitas vezes e desde há muito
tempo tenho abordado estas questões nestes espaços, bem como na intervenção
profissional, fundamentalmente com pais e nos contextos escolares a propósito
dos impactos nas relações sociais e em fenómenos de cyberbullying. Também elas
questões conhecidas fico satisfeito com esta emergente preocupação com a
sobreutilização dos telemóveis e outros equipamentos digitas nos espaços
escolares (e não só) pelos mais novos com riscos e consequências conhecidas.
No entanto, ainda que se possam
compreender as razões que sustentam as proibições, o uso excessivo e
desregulado, as decisões de proibição não parecem ser consensuais ainda que
possam ser uma decisão provável.
Não tenho nenhuma convicção de
que uma estratégia de proibição, só por si, devolva crianças e adolescentes à
interacção pessoal e a outros hábitos comportamentais mais interessantes
embora, obviamente, seja imprescindível a regulação do seu uso o que não
significará, necessariamente, uma “lei seca” para telemóveis.
Por outro lado, também não é rara
a utilização de telemóveis associada a actividades de aprendizagem.
Do meu ponto de vista seria
importante também colocar a questão a montante, a utilização que nós todos
damos a estes dispositivos. Seria muito interessante e desejável que se
discutisse a sério nas comunidades educativas a regulação dos comportamentos e
definição de regras e limites, sem “superpais”, sem “superfilhos” ou
“superprofessores”. No entanto, esta discussão tem de ser acompanhada pela
nossa, adultos, pais e/ou profissionais, regulação da sua utilização. Se
olharmos para muitas famílias em “convívio” ou para muitos contextos
profissionais em “reunião” verificaremos os ecrãs que muitos terão à sua frente
e perceberemos o que está por fazer, comportamento gera comportamento.
Como já referi, também me parece
que este movimento deve ser enquadrado na mudança que felizmente também parece
estar a emergir refreando o deslumbramento pela “transição digital” que,
enquadrando de forma ajustada a inevitabilidade de incorporar estas ferramentas
nos processos educativos, também volta a defender a importância de abordagens
metodológicas ou didácticas “antigas”, “conservadoras”, tais como escrever à
mão, desenhar, brincar na rua, ler em suporte papel, interagir presencialmente
ou promover relações afectivas literalmente mais próximas, tudo ferramentas
importantes de desenvolvimento e aprendizagem.
A ver vamos com a coisa evoluirá
por cá quando estamos submersos por um tsunami de transição digital e, claro,
de inovação e capacitação.
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