No Público encontra-se uma peça extensa e elucidativa sobre as dificuldades que muitas crianças com
sobredotação experimentam na educação escolar e algumas iniciativas que são
desenvolvidas no sentido de as minimizar ou ultrapassar no âmbito do Projecto
Investir na Capacidade desenvolvido pela Associação Portuguesa de Crianças
Sobredotadas.
Segundo a Associação estima-se
que exista entre 3% a 5% de alunos com sobredotação importando
identificar as situações e devolver dispositivos mais eficientes e suficientes
para o apoio a alunos, professores e pais. É consensual que as respostas e o
conhecimento das situações não são suficientes como também não o são face a
outras problemáticas relativas à diversidade entre os alunos. Nada de novo portanto, lamentavelmente.
No caso mais particular das
crianças sobredotadas acrescem algumas outras questões. Em primeiro lugar a
dificuldade em avaliar este tipo de situações e alguma falta de informação e
conhecimento genérico sobre esta matéria. Em muitas situações, conheci algumas,
os comportamentos e o funcionamento das crianças e até mesmo as dificuldades
escolares experimentadas por algumas eram considerados consequência das mais
variadas razões e raramente relacionadas com um quadro de sobredotação.
Acontece ainda que com alguma
frequência se estabelece o enorme equívoco de que "se a criança é
sobredotada não precisará de apoio", sendo que o próprio Ministério da
Educação assim considerou durante muito tempo como pude testemunhar em diversas
circunstâncias. Actualmente e como se refere na peça o ME remete para os
dispositivos enquadrados pelo inevitável Regime Jurídico da Educação Inclusiva
para que considerando outra inevitabilidade, a Autonomia e Flexibilidade
Curricular, se desenham respostas para estes alunos.
O problema é que, na verdade, as
crianças e adolescentes com sobredotação podem experimentar enormes
dificuldades no seu percurso educativo a que as escolas dificilmente conseguem
responder de forma eficaz, tal como têm dificuldade em assegurar respostas
eficazes e com os recursos necessários a outros grupos de alunos. A realidade,
quase sempre, atrapalha o discurso do ME.
Sem ser um especialista nesta
área, a sobredotação, entendo que a única forma de responder à diferença entre
os alunos é diferenciando o trabalho educativo, diferenciando as respostas
educativas, construir, de facto, modelos curriculares de natureza mais aberta e
flexível tal como definir dispositivos de avaliação também com algum nível de
diferenciação e, finalmente ter modelos de autonomia e organização escolar
reais bem como dispositivos de apoio competentes e suficientes.
Este cenário, enunciado a propósito dos alunos sobredotados, é a melhor forma de acomodar as diferenças entre os alunos, qualquer que seja a sua expressão, e promover, de facto, uma educação inclusiva que idealmente não deixe ninguém para trás.
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