Por estes dias os meus netos têm estado connosco no monte, estão de férias pois o seu ano lectivo é semestralizado cumprindo agora uma interrupção das aulas.
Ao ver o neto grande, o Simão, entusiasmado
por manejar pela primeira vez uma motoenxada para fabricar uma terra que levará
cebolo e o neto pequeno, o Tomás, a ajudar a plantar uns sobreiros, dei por mim
a pensar no futuro que os espera, coisa própria de um avô velho.
Lembrei-me que o meu pai, lá muito para trás no tempo, muitas vezes recorria ao provérbio, “na cama que farás, nela te deitarás”, sublinhando sempre a responsabilidade que eu tinha na construção do futuro que iria ser o meu. Talvez não partíssemos do mesmo ponto de vista, mas o meu pai sentia muitas vezes essa necessidade e eu lá ouvia pela enésima vez o ditado.
Lembrei-me porque acho que nestes
tempos as dificuldades na construção do futuro são imensas. Dito de outra
maneira, a feitura de uma boa cama não parece tarefa nada fácil.
O que nós temos vindo a fazer com
o mundo que recebemos não permite que sejamos particularmente optimistas com o
mundo que vamos deixar aos mais novos. A definição de projectos de vida que
contemplem realização profissional, constituição de família e parentalidade,
tanto quanto possível num patamar satisfatório em termos de qualidade de vida
poderão parecer uma miragem para muitos jovens deste tempo. De facto, em
resultado desta dificuldade assistimos ao prolongamento da estadia em casa dos
pais, ao adiar quando não ao recusar a paternidade ou maternidade, a
precariedade e vulnerabilidade nas carreiras profissionais, etc.
Nos tempos que correm parece
difícil fazer os jovens acreditar que depende deles a construção da cama onde
se deitarão.
Parece-me, aliás, que mais cedo
ou mais tarde e de forma mais ou menos pacífica, nos começarão a cobrar pela
falta de qualidade da cama que nós fizemos e onde eles agora ganham imensas
dores e não conseguem descansar.
Que desculpa lhes iremos dar?
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