Estamos em plena campanha eleitoral para as legislativas. Por um qualquer conjunto de razões que eu próprio não consigo entender muito bem, acho muito estimulante e interessante um fenómeno típico das campanhas eleitorais que dá pelo nome de “arruadas”, o passeio de um qualquer candidato por uma via pública, sobretudo as mais frequentadas.
O próximo fim-de-semana vai ser
um fartote, as reportagens televisivas das arruadas vão-nos entrar pela casa
dentro.
É certo que em qualquer altura a
deslocação de uma figura política ao que gostam de chamar o “país real” é já
uma amostra, mas em campanha pela conquista de mais um voto o espectáculo é
deveras estimulante. Sim, eu sei que é estranho, mas mesmo assim acho piada.
Tentem entender o meu ponto de
vista e reparem, por exemplo, no comportamento e atitude das figuras de segunda
linha que aparecem sempre coladas aos “importantes”. Normalmente, seguem um
passo atrás de qualquer entidade que leve uma câmara de televisão a segui-la.
Os figurantes constituem um grupo numeroso. Por este facto, nem sempre cabem no
ecrã e então, assiste-se, por vezes de forma pouco discreta, ao esforço para
aparecerem. Compõem um sorriso circunspecto e enquanto a entidade é
entrevistada é ver os figurantes a inclinar a cabeça em sinal de aprovação ao
mesmo tempo que procuram compor um ar inteligente e condescendente para com a
comunicação social. Têm a secreta esperança de merecer um primeiro plano que
constitua prova de vida.
Acho também muito estimulante o
papel dos “operacionais”, quase sempre os elementos das “juventudes
partidárias” os que fazem o alarido, agitam as bandeiras e gritam as palavras
de ordem e que, numa preventiva iniciativa para que não fiquem tão à rasca mais
tarde, vão fazendo a sua formação que lhes permita uma carreira aparelhística
ou, pelo menos, a esperança de um empurrãozinho na vida profissional.
Uma outra parte do espectáculo é
o comportamento dos anónimos que se cruzam com a arruada e expressam o que lhes
vai na alma face às cores do desfile fazendo com que a arruada pare ou acelere
o passo em busca de melhor ambiente.
Mas o que eu gosto mesmo, é de
ver o entusiasmo com que a generalidade dos candidatos é abraçado e abraça
muitíssimas vezes, distribui beijinhos pelas criancinhas e velhinhas com um
carinho e de uma forma tão genuína que enternece. Então nestes dias que têm
estado “ventaneiros” e frios será ainda mais agradável a proximidade genuína e
convincente. Acho mesmo que as eleições nunca deveriam realizar-se no tempo
quente, as arruadas fazem-se melhor com tempo fresco.
Não sei se vos convenci, mas como
diz o povo, “cá p´ra mim” as arruadas são mesmo o que de melhor as eleições
têm.
O resto é conhecido e quase
sempre pouco interessante.
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