sábado, 11 de março de 2017

UMA ESCOLA NOVA, UMA EDUCAÇÃO NOVA. SERÁ?

Embora não seja nada de novo, nos últimos tempos têm trazido inúmeros discursos e enunciados sobre a necessidade de “repensar a escola”, “reflectir sobre a escola que temos e a escola que queremos”, definir a “escola do Sé. XXI”, etc. Muitos destes discursos vêm do interior do universo da educação, da escola e confesso que não me parecem muito interessantes apesar de talvez também neles cair em algumas circunstâncias.
Antes de tentar explicitar deixo claro não esquecer que a escola, tal como qualquer outra instituição é um corpo vivo inscrito numa sociedade também ela em permanente movimento tomando sempre “novas qualidades” como disse Camões. É verdade que as “novas qualidades” nem sempre cumprem o que entendemos por qualidade embora também saibamos que em educação “cada cabeça, sua sentença” e sempre uma cabeça e sentenças iluminadas.
Também entendo que na história recente sofremos, a escolha do termo é intencional e assumida, dois períodos com efeitos particularmente marcantes pela negativa em matéria de educação, os consulados de Maria de Lurdes Rodrigues e de Nuno Crato com decisões e políticas que tornaram, tornam, mais imperiosa a mudança.
Dito isto e apesar disto, não creio que relativamente à escola e à educação reclamar constantemente um "mundo novo" ou proclamar  visões "novas” que em boa parte das vezes nem sequer parecem tão novas, sejam a melhor forma de desenhar a mudança.
Costumo dizer que uma criança, qualquer pessoa, só aprende a partir do que sabe, só é mais a partir do que já é.
Também assim vejo a escola. Muda a partir do que faz e não do que parece ser novo, muda a partir do que é e não a partir do que não sabemos o que vai ser.
Dir-me-ão que muitas coisas na escola não estão bem. Sim, eu sei, e frequentemente aqui refiro muitas dessas situações.
Mas também é verdade que todos os dias se fazem e acontecem muitíssimas coisas boas e positivas nas nossas escolas independente dos contextos, dos actores, dos recursos ou das políticas.
Não precisamos de “outra” escola, precisamos de cuidar desta e da gente que nela vive, alunos, todos os alunos, professores, funcionários, técnicos, direcções, pais, etc.
Precisamos de nos entender sobre esta escola, os seus recursos e as suas necessidades. Exigir “outra escola” é mais uma forma de recuperar a ideia de Lampedusa, é preciso que tudo mude para que tudo fique na mesma.
Muito provavelmente, também nesta matéria, a educação e a escola, fazem sentido as palavras de Mestre Almada na "Invenção do Dia Claro”, "Nós não somos do século de inventar palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século de inventar outra vez as palavras que já foram inventadas”.

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