segunda-feira, 20 de outubro de 2014

SOS BULLYING

A agenda das consciências assinala hoje o Dia Mundial de Combate ao Bullying. Algumas notas na linha do que frequentemente aqui tenho escrito.
Nos contextos educativos, dada a gravidade e frequência com que ocorrem episódios de bullying nas suas diferentes formas, torna-se imprescindível que lhes dediquemos atenção ajustada, não sobrevalorizando, nem tudo é bullying, o que promove insegurança e ansiedade, nem desvalorizando. pode negligenciar riscos e sofrimento.
Importa considerar desde logo que a ocorrência de situações de bullying é bem superior ao número de casos que são relatados. A UNICEF estima que uma em cada três crianças e adolescentes será vítima de bullying.
Uma das características do fenómeno, nas suas diferentes formas, incluindo o emergente cyberbullying, é justamente o medo e a ameaça de represálias a vítimas e assistentes que, evidentemente, inibem a queixa pelo que ainda mais se justifica a atenção proactiva e preventiva de adultos, pais, professores ou funcionários.
Considera-se que nos últimos três anos o fenómeno tenha provocado pelo menos 12 suicídios nos Estados Unidos. Recordo ainda que foi anunciado em Setembro de 2013 que a Direcção-geral de Saúde iria promover em várias escolas do país durante este ano lectivo um projecto de prevenção do suicídio dirigido a adolescentes. Felizmente, a taxa de suicídio adolescente em Portugal não é muito alta, embora um só caso já seja uma tragédia. No entanto, os comportamentos de natureza auto-destrutiva são bem mais prevalentes do que se pensa. Em algumas circunstâncias, mais tarde estes comportamentos podem culminar em suicídio.
Neste universo importa considerar dois eixos fundamentais de intervenção por demais conhecidos, a prevenção e a intervenção depois dos problemas ocorrerem. Esta intervenção pode, por sua vez e de forma simplista, assumir uma componente mais de apoio e correcção ou repressão e punição, sendo que podem coexistir. Com alguma demagogia e ligeireza a propósito do bullying, as vozes a clamar por castigo ou a desvalorizar ocorrências têm, do meu ponto de vista, falado mais alto que as vozes que reclamam por dispositivos de prevenção, intervenção e apoio para além da óbvia punição, quando for caso disso.
Relembro que o Portal sobre o bullying teve durante o seu primeiro ano de funcionamento cerca de 650 000 visitas e respondeu a 700 solicitações.
Esta utilização mostra a necessidade de dispositivos de apoio e orientação absolutamente fundamentais para que pais, professores e alunos possam obter informação e apoio. Lamentavelmente, este serviço é exterior às escolas e ilustra a falta de resposta estruturada e global do sistema educativo, para além das insuficiências na formação de técnicos e de professores sobre esta complexa questão, desde logo para o seu reconhecimento. A existência de dispositivos de apoio sediados nas escolas, com recursos qualificados e suficientes é, a par de ajustamentos nos modelos de organização e funcionamento das escolas e de uma séria reestruturação curricular, uma tarefa urgente.
Do meu ponto de vista, o argumento custos não é aceitável porque as consequências de não mudar são incomparavelmente mais caras. Depois das ocorrências torna-se sempre mais fácil dizer qualquer coisa mas, sendo necessário, já é tarde.
Muitas crianças e adolescentes evidenciam no seu dia-a-dia sinais de mal estar a que, por vezes, não damos atenção, seja em casa, ou na escola, espaço onde passam um tempo enorme.
Estes sinais não podem, não devem, ser ignorados ou desvalorizados. 
O resultado pode ser trágico.

Sem comentários: