segunda-feira, 20 de outubro de 2014

MAIS DE UM MÊS SEM AULAS. QUE FAZER?

"Compensar alunos sim, mas sem mais aulas por semana e fora das pausas lectivas"

O Público contactou-me no sentido de colaborar numa peça sobre as consequências do catastrófico e incompetente arranque do ano lectivo que mais de um mês depois do seu início formal ainda não decorre com normalidade em muitas escolas.
Caberá, como sempre, às escolas, professores, alunos e pais tentar apagar um fogo que a arrogância e incompetência do MEC ateou e que, do meu ponto de vista, deixará marcas que a curto prazo dificilmente serão eliminadas, quando muito serão atenuadas. A compensação imprescindível é difícil e complexa.
Uma primeira nota para referir que boa parte das escolas afectadas sãoTEIPs, ou seja, comunidades educativas com variáveis de contexto que não são positivas, aliás, daí decorre a sua condição de TEIP, A situação criada acaba por despejar problemas para cima de problemas.
Creio que também temos de considerar uma outra variável. A organização e conteúdos curriculares, de natureza mais fechada e extensos, a que se junta um conjunto de metas curriculares que foram definidas de uma forma exaustiva e burocratizada torna bastante mais difícil a introdução de ajustamentos. Isto quer dizer que mais de um mês sem aulas implica que muitos conteúdos programáticos deveriam ter sido abordados e o tempo que resta estará, sem grande margem, hipotecado pelos conteúdos e extensão que nesta altura deveriam estar a ser trabalhados.
Aliás, recordo que foi notícia a decisão de algumas escolas de "aliviar", por assim dizer, alguns conteúdos dos programas o que, evidentemente, em anos de exame e no cumprimento das metas curriculares não deixará de ter efeitos.
Também é sabido que muitas famílias afectadas têm estado a recorrer a explicações para atenuar à falta de aulas. Percebe-se obviamente a decisão, mas também é claro que esta situação alimenta assimetrias e a desigualdade de oportunidades, quando, para complicar, se atravessa um período de enormes dificuldades para as famílias.
Têm sido referida como hipótese para atenuar toda esta situação promover mais trabalho diário para os alunos ou estender as aulas por mais algum tempo durante as férias.
Para além das implicações que estas medidas tenham paras escolas e para os professores, quando se sabe que os cortes têm criado enormes dificuldades às escolas, e do risco de acrescentar trabalho lectivo em dias já carregados ou no fim dos períodos, também me parece que mais uma hora por dia ou mais dois ou três dias de aula no final do período não substituem um mês e meio sem aulas.
Uma outra medida colocada pela jornalista seria o adiamento ou cancelamento de exames. A relação mágica do Ministro Nuno Crato com os exames não parece admitir este cenário que, do meu ponto de vista, pouco impacto teria neste problema. Serviria apenas para não "medirmos" os eventuais efeitos deste atraso e das diferenças prováveis entre os resultados de alunos que não tiveram todas as aulas e os seus colegas.
Como tive oportunidade de dizer e aqui reafirmo. creio que, na condição das escolas verem cumprida a promessa de Nuno Crato de terem recursos para as medidas que proponham, uma forma de minimizar danos seria recorrer a parcerias e coadjuvação nas salas de aula no sentido de promover "melhor trabalho" antes de enveredar por soluções de mais trabalho que poderiam funcionar como uma segunda intervenção se e quando fosse julgada necessária.
Com medidas de apoio inscritas no tempo que ainda temos pela frente, com uma avaliação regular dos efeitos destes apoios, poderíamos ir atenuando os efeitos de todo este processo.
Sendo optimistas e devemos sê-lo, a médio prazo a situação dos alunos agora envolvidos pode ser ajustada. No entanto, a curto prazo, estou a falar deste ano lectivo, julgo que podemos e devemos tentar conter danos, minimizar efeitos mas dificilmente tudo será "normalizado".
Uma palavra ainda para um grupo que tembém neste processo foi completamente atropelado e cuja sitação é menos divulgada, a dos alunos com necessidades educativas especiais que, por falat de professores e de técnicos têm estado em casa ou "entregados" em escolas em condições que contrariam o que legalmente está definido ou mesmo juntos numa sala sem a realização do trabalho educativo que por necessidade é imprescindível e a que têm direito.
Eu gostava, eu queria, ser optimista mas a prática do MEC não me deixa sê-lo. As escolas precisariam de recursos acrescidos para lidar com este problema. Não pode assentar na sobrecarga de professores que já estão no limite. O que irá fazer o MEC?

2 comentários:

Ana disse...

O que irá fazer o MEC?
Conferir "autonomia" às escolas para encontrar as soluções necessárias e depois responsabilizar as escolas pelas decisões tomadas. Tudo isto com um acréscimo de zero recursos, claro!

Zé Morgado disse...

Mais do mesmo. A irresponsabilidade e o despudor.