Foram finalmente divulgados os resultados dos exames nacionais do 9.º ano. Uma síntese dos resultados.
As médias estão próximas das
verificadas em 2024, 52 pontos em Matemática, um ponto acima de 2024, 58 em
Português, um abaixo do ano anterior. Em
Português, 31% dos alunos não teve nota positiva e em Matemática 51%,
ligeiramente acima de 2024.
Relativamente ao Secundário, das
25 disciplinas avaliadas, 15 tiveram resultados mais baixo que em 2024, algumas
com descidas ligeiras outras mais significativas, História A ou Geometria A, por exemplo.
Que leitura podemos fazer dos
resultados?
Como indicador fundamental de
avaliação externa a análise está comprometida à partida porque pela natureza
das provas, com a potencial variação do seu grau de dificuldade, torna-se difícil a
comparação com anos anteriores. As opiniões de professores e alunos sobre o
grau de dificuldade mostra isso mesmo. Este ano pretendia-se iniciar uma série
que permitisse essa comparação mantendo um conjunto de questões nos exames que
permitissem sucessivas comparações. Com se sabe a forma como decorreram os
exames do 9.º invalidarão, provavelmente, esse objectivo.
Sendo a avaliação externa uma
ferramenta crítica na regulação de qualidade dos sistemas educativos, importa
que os dispositivos utilizados possibilitem a construção de “retratos” robustos
e comparáveis dos trajectos escolares. Considerando este objectivo, seria
necessário que a construção dos exames contribuísse para que fosse possível
prevenir potenciais enviesamentos.
Por outro lado, também podemos
considerar a existência de uma “gestão política” dos resultados. Recordo uma
afirmação de 2015 do então presidente do Conselho Científico do IAVE em
Coimbra, referindo a possibilidade de alterar médias com pequenas mudanças em
pouquíssimas questões.
Assim, os exames cumprem a função
de certificação de conclusão do secundário e, sobretudo, sustentar o acesso ao
superior. Neste cenário, parece-me de repensar o modelo de acesso ao superior.
Desde logo creio que o modelo
actual promove uma desvalorização do próprio ensino secundário que deveria ser
considerado e percebido como a finalização de um ciclo de estudos e não como a
antecâmara do superior e a sala de explicações para preparação para os exames,
aliás ouve-se com frequência o desconforto de docentes de ensino secundário
como este quadro. Na verdade, sentem o seu trabalho com os alunos hipotecado ao
peso dos exames e não à formação a adquirir no ensino secundário nas diferentes
disciplinas. Apesar das alterações realizadas a questão mantém-se.
Por outro lado, a situação actual
favorece, como é sabido e reconhecido, a iniquidade assente na "simpatia
generosa" de algumas escolas, maioritariamente privadas, que inflacionam a
avaliação interna dos alunos ou o florescimento de um nicho de mercado, as
explicações ou centros de estudo, dirigido à preparação para os exames com
custos não acessíveis a boa parte das famílias.
Assim, parece-me ser adequado
entender que a conclusão e certificação de conclusão do ensino secundário e a
candidatura ao ensino superior deveriam ser processos separados.
Os exames nacionais destinam-se,
conjugados com a avaliação realizada nas escolas, a avaliar e certificar o
trabalho escolar produzido pelos alunos do ensino secundário e que, obviamente,
está sediado no ensino secundário.
O acesso ao ensino superior será
um outro processo que deveria ser da responsabilidade do ensino superior e
estar sob a sua tutela com também sugere a recomendação do CNE divulgada em
2020. Seriam exigidos, naturalmente, dispositivos de regulação deste processo.
Parecer-me-ia mais ajustado que
as classificações, internas e externas no ensino secundário consituíssem apenas
um factor de ponderação a contemplar com outros critérios nos processos de
admissão organizados pelas instituições de ensino superior como, aliás,
acontece em muitos países. É óbvio que este processo exigiria regulação
eficiente e o envolvimento do ensino superior público e privado.
Para minimizar equívocos reafirmo
que a questão não está na existência ou importância dos exames finais do
secundário que não me parece colocar grandes dúvidas.
Enquanto não se verificar a
separação da conclusão do secundário da entrada no superior não valorizamos o
ensino secundário no que lhe é próprio e ainda corremos o risco de lidar com
situações de “enviesamento” decorrentes da estrutura de exame ou do grau de
dificuldade escolhido, bem como de negócios que sendo úteis a alguém, não o
serão, obviamente, para a maioria das famílias.
2 comentários:
A "separação da conclusão do secundário da entrada no superior" não "protege" o ensino secundário pois o futuro de uma grande percentagem de alunos depende do exame que vai fazer a seguir e o ensino secundário é desvalorizado porque o exame de acesso ao superior é que conta para o futuro (veja-se o caso de Espanha). O enviesamento da estrutura do exame não é eliminada com exames feitos pelo ensino superior (veja-se novamente o caso de Espanha, onde até existe um nível de enviesamento suplementar por os exames serem produzidos por consórcios regionais de universidades). A solução é a profissionalização do processo dos exames de que bons exemplos são o caso finlandês (feitos pelo Ministério da Educação) e o caso Holandês (feitos por uma Fundação privada).
Agradeço o seu comentário e peço desculpa pela resposta tardia. Na verdade existem múltiplos processos na passagem do secundário para o superior. A minha questão é que o nosso modelo não me parece o mais adequado.
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