segunda-feira, 16 de outubro de 2023

É TÃO TRISTE NÃO SABER LER

 É sempre com uma sensação de estranheza e de emoção que constato a existência de iniciativas de combate ao analfabetismo. Não saber ler parece estranho nos tempos que vivemos e, de certa forma, concorre com altíssimos de iliteracia em muitos domínios por parte de gente alfabetizada e mesmo com formação diferenciada. Ao mesmo tempo multiplicam-se as referências às literacias mais diversas e respectivos especialistas.

No JN encontra-se a referência ao trabalho de uma associação em Matosinhos, a ADEIMA, que envolve cerca de 100 pessoas, a maioria até trabalha, tem menos de 50 anos, não completou o 1º ciclo, mal sabe escrever para além do nome e sente dificuldades em situações como conseguir uma receita num centro de saúde, a andar de transportes públicos ou até levantar dinheiro no multibanco. Algumas destas pessoas querem tirar a carta de condução, aceder a um curso ou ler um história aos netos, referência que me parece de sublinhar com a emoção.

A verdade é que apesar da evolução dos inaceitáveis indicadores herdados do estado novo ainda é surpreendente que de acordo com o Censo de 2021 ainda tenhamos cerca de 300 000 pessoas, 3,1 %. Como esperado, os mais velhos revelam maiores taxas de analfabetismo, mas continuam a existir mais de 16 mil pessoas entre os 40 e os 49 anos nessa situação, entre os 30 e 39 são mais de nove mil entre e até aos 30 existem quase oito mil jovens analfabetos.

Como disse, temos registado uma evolução significativa, no Censo de 2011 apurou-se uma taxa de analfabetismo de 5.15%. Sendo certo que este dado representa um salto relevante face a 25.7% em 1970 a verdade é que ainda mantemos uma taxa demasiado elevada. A educação de adultos é hoje uma área de forte investimento em diversos sistemas educativos mesmo em países taxas de alfabetização bastante acima das nossas.

Se à taxa de analfabetismo acrescentarmos o analfabetismo funcional, pessoas que foram escolarizadas, mas que não mantêm competências em literacia, a situação é verdadeiramente prioritária, atingirá certamente pelo menos dois milhões de portugueses. No entanto, muitas das iniciativas decorrentes de projectos ou programas de qualificação acabam por não abranger quem parte do zero.

Tantas vezes é preciso afirmar, os custos em educação não representam despesa, são investimento e com retorno garantido.

A propósito do analfabetismo por aqui no Alentejo canta-se:

(…)

É tão triste não saber ler

Como é triste não ter pão

Quem não conhece uma letra

Vive numa escuridão

(…) 

O analfabetismo parece algo de anacrónico nos tempos que vivemos, mergulhados num mundo de literacias com gente ao lado que não sabe ler nem escrever. 


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