quinta-feira, 18 de agosto de 2016

PUBLICIDADE E POLÍTICA

Segundo O Relatório de encargos com as campanhas eleitorais que partidos e coligações são obrigados a entregar no Tribunal Constitucional, só o trabalho de aconselhamento do publicitário André Gustavo à coligação PSD/CDS-PP terá custado 475000 euros. Um outro exemplo, o PS pagou 751 mil euros pela decoração de salas, a iluminação e o som para dúzia e meia de comícios.
Sou dos que entendem que a democracia tem custos e que dinheiros públicos deverão ser empregues, de forma controlada e transparente como é óbvio, neste tipo de iniciativas justamente como forma de … promover a democracia.
Por outro lado, também entendo que os apoios financeiros privados a para a actividade política devem ser fortemente regulados e escrutinados porque como se sabe … não há almoços grátis.
O que que me vai deixando progressivamente mais inquieto dada vez me deixa mais inquieto é que as ideias políticas, de uma forma geral, transformaram-se me “produtos” em “conteúdos” que devem ser vendidos o melhor possível independentemente da sua qualidade.
Basicamente desde o famoso debate entre Kennedy e Nixon em 1960 que a imagem, comunicação social, passou a ter um papel fundamental na acção política de qualquer governo ou regime.
Qualquer de nós concordará que uma boa ideia mal “vendida” pode ser entendida como uma má ideia e, inversamente, uma má ideia bem “vendida” pode ser considerada como uma boa ideia. Sabemos também como todas as pessoas que profissionalmente contactam com outros, precisam de estratégias de comunicação eficazes de modo a potenciar o seu efeito.
Dando por adquirido que as práticas neste universo estarão dentro do quadro legal, o que nem sempre acontecerá, a grande e difícil questão que se coloca neste universo, não é a utilização de um conjunto de ferramentas de comunicação, a que, simplificando, podemos chamar marketing, publicidade, mas a regulação ética e moral dessa utilização.
Existe uma ténue fronteira entre “boa estratégia de comunicação” e “manipulação”, existe uma linha estreita entre o que se deve dizer e o que se deve saber, considerando os conflitos de interesse em jogo, existe uma distância muito curta entre retratar a realidade e retratar a mesma realidade de diferentes ângulos e com diferentes indicadores, existe a possibilidade de passar todas as mensagens ou de privilegiar algumas mensagens, existe a possibilidade da dupla mensagem, ou seja, um discurso ao encontro do que se julga querer ouvir e uma prática que se avalia como necessária, etc.
A questão é, assim, saber se a estratégia dos actores políticos em matéria de comunicação e imagem estando, desejo, nos limites da lei, respeita os limites da ética e os direitos individuais, como o direito à informação. Pessoalmente, devo dizer que, por vezes, me incomoda particularmente, o que oiço e vejo, quando sei, por que conheço, que a realidade não é o que me estão a vender.
De resto, lembremo-nos da mítica comparação de Rangel sobre a possibilidade da TV, tanto vender sabonetes como presidentes.

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