terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

AO DEUS DARÁ

Quando era miúdo, “ao Deus dará” era uma expressão que se utilizava frequentemente na minha zona e lá na família quando alguém tinha uma vida sem governo, ou seja, quando era incapaz ou não tinha recursos para tomar conta de si, ficando à mercê do destino, de Deus, para o efeito, era mais ou menos a mesma coisa. Com o tempo, muito, fui deixando de ouvir a expressão, seja porque o povo deixou de acreditar tanto, seja porque as pessoas cada vez mais se foram tornando capazes e com possibilidades de que a sua vida dependa, sobretudo, de si.
Nos últimos dias, devido à situação económica em que vivemos, a comunicação social refere-se a situações problemáticas, designadamente, de desemprego. As situações abordadas são, frequentemente, impressionantes, sobretudo na televisão pois a imagem das pessoas, por vezes, fala mais alto que o seu discurso. Em muitos casos e de uma forma esmagadora, as pessoas passam uma ideia de impotência e desesperança absolutas. Independentemente das medidas de apoio regularmente anunciadas, as pessoas sentem, pressentem, a ausência, olham para a frente e vêem nada. Tenho ouvido discursos inquietantes de angústia sobre o que vai ser quando … não tiver o subsídio de desemprego … acabar alguma poupança que tinha … já não me fiarem na loja. E as interrogações que ficam a meio … e a casa? … e a escola dos filhos? … e o comer, a água, a luz?
Acho que ninguém consegue ter respostas, mas sinto que muita gente pode ficar, de novo, ao Deus dará. E …

1 comentário:

Elfrida Matela disse...

Não consigo evitar: todas as manhãs, ao ter de me levantar tão cedo e enfrentar o frio e a chuva até ao trabalho, dou por mim a resmungar baixinho contra a vida que me obriga a estas bolandas. E depois, perante a realidade com que somos diariamente confrontados dos números assustadores do desemprego, da desesperança, baixo a cabeça envergonhada e faço uma prece muda de agradecimento por ter de me levantar todas as manhãs.