Hoje, felizmente, tropecei com o excelente texto de António Jacinto Pascoal no Público, “A língua e o sofá: o paraíso beatífico do acordo ortográfico”. Não sendo um especialista entendo que o artigo é uma notável defesa da Língua Portuguesa e, mais uma vez, se a evidencia que a transformação do Português pelo “acordês” é absolutamente insensata.
Será porventura uma tarefa sem
sucesso, mas enquanto for possível reverter a situação criada pelo AO90, ou,
pelo menos, atenuar danos, vale a pena insistir, importa que não nos resignemos.
É uma questão de cidadania, de defesa da Cultura e da Língua Portuguesa. Aliás,
os que por aqui passam notarão a manutenção do Português e a recusa do “acordês”.
É importante recordar que apenas
Portugal, S. Tomé e Príncipe, Brasil e Cabo Verde procederam à ratificação.
Como tantas vezes tenho escrito,
desculpem a insistência e não inovar, entendo, evidentemente, que as línguas
são estruturas vivas, em mutação, pelo que requerem ajustamentos, por exemplo,
a introdução de palavras novas ou mudanças na grafia de outras, o que não me
parece sustentação suficiente para o que o Acordo Ortográfico estabelece como
norma.
Não sou, evidentemente, um
especialista, mas parece-me que o cerne da questão reside, de facto, no
entendimento, cito o presidente da Academia das Ciências de Lisboa, de que
“Qualquer tentativa de uniformização ortográfica nos diversos países que usam a
língua portuguesa como oficial é utópica” e que “o normal é o respeito pelas
ortografias nacionais".
É esta perspectiva que informa o
que se passa, por exemplo, com o inglês ou o castelhano/espanhol que têm
algumas diferenças ortográficas ou na linguagem oral nos diferentes países em
que são língua oficial, sem que daí advenha qualquer perturbação ou drama mas
isto dever-se-á, certamente, a ignorância minha e à pequenez irrelevante
daquelas comunidades anglófonas ou com língua oficial castelhano/espanhol.
Acresce que as explicações que os
defensores, especialistas ou não, adiantam não me convencem da sua bondade,
antes pelo contrário, acentuam a ideia de que esta iniciativa não defende a
Língua Portuguesa. O seu grande defensor Malaca Casteleiro refere até
"incongruências" no AO, o que, aliás, me parece curioso, para ser
simpático. Dito de outra maneira, desencadeamos um acordo com esta amplitude e
implicações para manter "incongruências e imperfeições" que
abastardam a ortografia da Língua Portuguesa.
Por outro lado, a grande razão, a
afirmação da língua portuguesa no mundo, também não me convence. Voltando ao
exemplo do inglês e do castelhano/espanhol que têm diferenças ortográficas nos
diferentes países em que são língua oficial, não parece sejam conhecidas
particulares dificuldades na sua afirmação, seja lá isso o que for.
O que na verdade conhecemos com
exemplos extraordinários é a transformação da Língua Portuguesa numa mixórdia
abastardada, numa confusão impossível de concertar dadas as diferenças entre o
Português falado e escrito pelos diferentes países da Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa.
Era importante que fossem
revertidos alguns dos maus-tratos dados à Língua Portuguesa com o AO90.
Enquanto o corrector me permitir
e eu conseguir tentarei evitar o “acordês”, birra de velho, evidentemente.
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