É claro que não é por muito falar dos problemas que eles se resolvem ou minimizam. No entanto, também me parece que não insistir pode contribuir para uma menor atenção a situações muito séria e atentatórias do direito das pessoas. É o caso das pessoas em situação de sem-abrigo. Assim, voltemos a insistir.
De acordo com os dados do
Inquérito de Caracterização das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo em 2023 integrado
na Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo,
foram identificadas 13 128 pessoas nesta situação, um aumento face às 10 773
situações detectadas no ano anterior.
Os concelhos de Lisboa, Beja, Porto
e Moura têm os dados mais elevados. Vamos aguardar que as iniciativas em desenvolvimento e em projecto no âmbito da Estratégia Nacional para a
Integração das Pessoas em Situação de Sem Abrigo 2025-2030 possam ter um
impacto positivo. A ver vamos.
No entanto, parece-me que não
devemos esquecer que continua a ser muito grande o mundo dos sem-abrigo. São
muitos, demasiados, os sem-abrigo do mundo, boa parte integra aquela
percentagem que a sondagem nunca mostra de que fala Sam The Kid.
São muitos, os sem-abrigo num
porto que os acolha, uma casa, uma família, um espaço a que dêem vida e que
lhes apoie a vida.
São muitos, os sem-abrigo, mesmo
com família ou em instituições.
São muitos, os sem-abrigo no
afecto, nos afectos, sem um coração que os abrigue.
São muitos os sem-abrigo em
escolas onde não cabem.
São muitos, os sem-abrigo em
mundos que não são seus. São muitos, os sem-abrigo em culturas que não entendem
e que não querem entendê-los.
São muitos, os sem-abrigo num
corpo que seja aconchego para o seu corpo.
São muitos, os sem-abrigo em
valores que cada vez mais predominante e que não os reconhecem.
São muitos, os sem-abrigo em
vidas que lhes não pertencem, mas carregam. São muitos, os sem-abrigo no aceder
e no gostar das coisas de que a vida também se tece.
Como referi, muitos destes sem
abrigo vivem à nossa beira, sem-abrigo, não contabilizados, nem
contabilizáveis.
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