Um dos produtos informativos sazonais é a divulgação no final de cada ano realizada pelo Instituto dos Registos e do Notariado dos nomes que os pais entendem "oferecer", chamar, aos que vão nascendo considerando o início de Dezembro. Tal como tem acontecido nos últimos seis anos, em 2024 os nomes mais escolhidos são Maria e Francisco. Depois temos Alice, Benedita, Matilde e Leonor, nas raparigas e Lourenço, Vicente, Tomás e João nos rapazes.
Apesar desta recente estabilidade
e para quem como eu lidou durante muito tempo com sucessivas gerações de alunos
são evidentes e curiosas as mudanças têm vindo a ser registadas e bem evidentes
ao fim de alguns anos.
Devo dizer que tenho vindo a
ficar um pouco inquieto com o rumo que a coisa tem vindo a tomar e parece
persistir.
Um mundo sem “Sónias Andreias”,
sem “Cátias Vanessas”, sem “Sandras Cristinas”, sem “Tatianas”, sem “Fábios”,
sem “Mauros”, é certamente um mundo diferente. Também em trabalhos
anteriores sobre esta matéria se registava já a tentativa de sofisticar um
pouco as escolhas, mantém-se o popular Maria, João e Francisco mas temos o
Santiago, o Lourenço, o Rodrigo, o Martim, o Tomás, o Santiago, o Afonso, a Mariana, a
Matilde, a Beatriz, entre outras, que nos garantem, enfim, outra apresentação.
Mas o que me deixou mais
apreensivo face a esta questão, é que, recordando um trabalho também sobre esta
matéria há algum tempo divulgado, parece notar-se que o povo está mesmo a
voltar as costas aos nossos mais gloriosos nomes, sobretudo nos rapazes, nomes
como Manuel, António, José, Paulo, Carlos, etc., estão em queda. Será que vamos
deixar de ter um Carlos Jorge, um António Manuel, um Manuel Carlos, um José
Manuel, um António João, um Paulo Jorge, tudo nomes na nossa melhor tradição?
Para dar um exemplo, os meus
nomes, José e António desapareceram dos dez primeiros há já alguns anos.
Até nos nomes! A nossa identidade
está em mudança.
É certo que existem uns nomes que
todos os dias, em voz mais alta ou mais baixa, chamamos a alguém e que se
mantêm e manterão, aí a tradição ainda é o que era, felizmente.
Por outro lado, existe um outro
lado dos nomes que se chamam e de que as pessoas e de que as pessoas não
gostam. Uma pequena história que há tempos aqui deixei.
"Gosto quando me chamam. Às
vezes, muitas vezes, não me chamam.
Outras vezes chamam-me nomes que
não são meus. Os crescidos chamam-me preguiçoso, distraído, parvo, bebé,
coitadinho e outros nomes, sempre nomes que não são meus.
Os outros miúdos chamam-me
badocha, gordo, bolacha, caixa de óculos, def e outros nomes, sempre nomes que
não são meus.
Eu acho que as pessoas, todas as
pessoas, só deviam ter um nome, o seu."
Seja ele qual for, acrescentaria
eu, José.
Sem comentários:
Enviar um comentário