Como tantas vezes repetimos e ouvimos, meteu-se o Natal e agora mete-se o Ano Novo.
Os dias que medeiam entre o Natal
e o Ano Novo têm, do meu ponto de vista, um conjunto de características muito
particulares. Fico sempre com a sensação de que os percebemos como não dias.
Pode parecer uma ideia estranha, mas vou tentar explicar.
Logo depois do Natal, ainda a
recuperar do espírito natalício, entramos numa espécie de ressaca advinda da
azáfama das prendas, dadas, recebidas ou sonhadas e da culpa resultante dos
excessos. Acresce para muita gente o problema das trocas, ou porque já tinham o
que receberam ou porque, por várias razões, não serve o que receberam.
Para que se não saia dos espaços
comerciais o ânimo irá recuperar-se entrando de imediato na época de saldos,
descontos, promoções ou outra qualquer designação apelativa a mais umas
compras. Trata-se do efeito terapêutico do mercado e do consumo.
Deste estado, passamos para os
dias de aproximação ao Ano Novo que, independentemente do que de menos bom
possamos racionalmente esperar, vivemos com a esperança de que seja mesmo novo
e, sobretudo, Bom. Este ano, mais do que nunca, queremos, precisamos, que o
próximo seja melhor.
Iremos certamente trocar inúmeras
mensagens e votos noutra azáfama que aparenta assentar numa ideia mágica dos
tempos de miúdo que nos parece fazer acreditar em que se assim procedermos, o
Ano Novo vai ser mesmo Novo e, repito, Bom. De tanto falarmos nisso pode ser
que ele se convença de que terá de ser mesmo Bom.
É certo que de há uns tempos para
cá, como devem ter dado por isso, foi desaparecendo o Próspero, basta que seja
Bom, ou até mesmo que não seja pior do que o que acaba. Já era bem bom, por
assim dizer, mas não chega, o ano que acaba foi mau, muito mau, para muita
gente.
É também muito provável que nos
últimos dias do próximo Dezembro, o de 2025, e mesmo que como precisamos e
desejamos ele tenha sido melhor que 2024, estaremos com o mesmo sentimento a
enunciar os mesmos discursos apesar das promessas optimistas de que ... a coisa
está a mudar.
A passagem deste ano como também
não podia deixar de ser vai acontecer e múltiplas formas e cenários, com ou sem
réveillons, mas, naturalmente com aquela alegria a que nos sentimos obrigados
ou que genuinamente sentimos a cada noite de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro.
O problema mais sério é que a 2
de Janeiro está aí o Ano Novo que, para muita gente, vai continuar velho e para
muita outra gente não será Bom, longe disso.
Mas para um povo sereno e de
brandos costumes como nós, esperemos que haja saúde que é o principal, como
sabemos.
De resto, bom de resto … algum
jeito se há-de dar.
Bom Ano. De forma mais modesta, o
melhor ano possível.
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