quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

QUANTO TEMPO É QUE TE FALTA?

 

Ontem o DN noticiava que desde 2013 que não se verificava um número tão elevado de professores a aposentar-se. Este ano passara à situação de aposentado 3981 docentes o ano com mais desde 2013, sendo que em Dezembro se registaram 506 pedidos.

É certo que não é um problema exclusivo do nosso sistema educativo, mas como tantas vezes tem sido afirmado, este cenário estava estudado e previsto há já alguns anos, mas as políticas públicas negligentes ou incompetentes seguidas de há uns anos para cá contribuem para o actual quadro. Embora haja quem assobie para o ar, não esquecemos os discursos sobre “professores a mais”, as sugestões para emigrar dirigidas a docentes em início de carreira, como também não esquecemos tempos severo de desvalorização dos professores em termos sociais, modelo de carreira e salarial com impacto fortíssimo na atractividade da carreira por gente jovem que a rejuvenescesse e alimentasse.

Aliás, as políticas seguidas em matéria de educação também contribuíram para o cansaço e mal-estar, desencanto e desejo de abandono da profissão que se foi instalando em muitos docentes.

A propósito, relembro que, há já uns anos largos, uma professora, na altura minha aluna de doutoramento, me perguntava, com um ar meio sério, meio a brincar, se podia desenvolver a sua tese a partir de uma questão que considerava a mais ouvida nas salas de professores, quando no meio da burocracia e das actividades ainda havia tempo para passar na sala de professores, “quanto tempo é que te falta?”. A sua ideia não foi para a frente enquanto doutoramento, mas o que lhe está subjacente é bem claro e bem preocupante. O resultado está à vista.

Na verdade, ser professor é uma das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas é seguramente uma das mais difíceis e que mais valorização nas diferentes dimensões e apoio deveria merecer. Do seu trabalho competente e valorizado depende o nosso futuro, (quase) tudo passa pela educação e pela escola.

Qual é parte que não se percebe?

Sem comentários: