segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

TEMPO DE NATAL. QUANDO EU FUI AO ESPÍRITO NATALÍCIO

 Continuando no tempo do Natal.

Estando aqui no sossego do Monte no Meu Alentejo lembrei-me de que há alguns anos e contrariamente ao que é meu hábito, num destes dias próximos do Natal fui ao espírito natalício mais impactante, como agora se fala, que existe na zona onde moro, o Almada Fórum. É um dos maiores e está perto. Na altura escrevi sobre esta ida e recupero a experiência que não mais repeti.

Eu pensava que estava perto, mas logo para chegar, não foi fácil, acho toda a gente resolveu ir ao espírito natalício o mesmo tempo que eu.

Não foi tarefa simples conseguir um lugar para o carrito, parece que é difícil estacionar no espírito natalício, os parques estão completos, gostamos muito do nosso espírito natalício, é tão bonito, ou mais, que os outros.

Logo no parque se via, se sentia, se ouvia, o Natal. Os carros com as luzes e piscas ligados e a apitar freneticamente pareciam um enfeite daqueles que as autarquias instalam para nosso contentamento. Muito bonito e as pessoas estavam, de facto, com um ar contente, a entrar ou sair cheias de embrulhos de espírito natalício, até pareciam indiferentes às dificuldades da lida diária que nestas alturas, é claro, sempre se esquecem um pouco.

Lá dentro do espírito natalício havia gente que vou-vos contar. Mas estava um ambiente tão simpático e aconchegante com o aquecimento no máximo e as pessoas ao colo umas das outras, que se deseja que o Natal não acabe. Foi uma experiência fantástica, como agora se diz. Para terem uma ideia da passagem pelo espírito natalício, deixo-vos uns fragmentos do que fui captando.

“Ó Cajó não tesqueças que temos que ir ao JUMBO buscar os camarões que são mais baratos que no LIDL. Tá bem Micas, aproveita-se e levamos as bejecas.”

“Crise? Qual crise? Crise é para mim que não me sai o Euromilhões.”

“Vanessa não insistas. Inda em Agosto, pelos anos, te comprei um telemóvel, não te vou já comprar outro. Na tua idade não precisas de uma banda muito larga, essa chega muito bem.”

“É sempre a mesma coisa e eu não aprendo. A tua mãe está lá dentro da loja há uma hora, na volta não compra nada nesta e temos que apanhar outra seca.”

“Crise? Qual crise? Crise é para mim que não me sai o Euromilhões.”

“Não me chateies com os livros. Ainda não leste todos os que estão lá em casa.”

“Não André, já te disse, não te compro isso do drone. Para andar no ar chega a tua cabeça.”

“Tatiana, por amor de Deus, 12 prendas chegam. Queres mais alguma coisa pede à tua avó.”

“Não Miguel, é ao contrário, o Natal é que passas com a mãe e na passagem de ano é que vais com o teu pai.”

“Crise? Qual crise? Crise é para mim que não me sai o Euromilhões.”

“Ó mãe deixa-me pôr outra moeda na máquina. Ainda só andei seis vezes. Vá lá.”

“Inda vou ali comprar umas calças daquelas que vêm rotas, são fixes, O people tem todo.”

“Eu bem te disse que não era boa ideia trazer a velhota. Nunca mais vamos sair daqui.”

Logo que me apanhei com os livros que só naquele dia pude ir buscar ao espírito natalício ... fugi.

Não, não gosto particularmente do espírito natalício, deste espírito natalício, mas … é difícil contrariar a tradição.

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