terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

OS CAMINHOS DO ENSINO SUPERIOR

O Ensino Superior em Portugal atravessa um período complexo e a exigir reflexão profunda sobre os caminhos a percorrer. Num quadro de dificuldades e restrições orçamentais que atravessamos e a que o ensino superior não fica imune, mais imperiosa se torna essa reflexão. Há algum tempo, o Conselho de Reitores, tal como os presidentes dos Institutos Politécnicos, manifestavam a sua enorme preocupação com os riscos de degradação quer do ensino, quer da investigação que o abaixamento do financiamento implicará, como, aliás, notícias recentes sobre o Instituto Superior Técnico referiam.
Como de há muito afirmo e muitas vozes se ouvem nesse sentido, para além da importante questão imediata dos cortes orçamentais para 2012, a questão estrutural remete para o sobredimensionamento da rede de ensino superior em Portugal.
O Professor António Nóvoa, reitor da U. de Lisboa, tem vindo a afirmar a imperiosa necessidade de racionalizar a rede, "Portugal não deveria termais do que sete ou oito universidades públicas. E estou a ser benevolente" afirmou. Neste quadro assume relevância a notícia hoje divulgada no Público sobre o processo de fusão entre a Universidade Clássica de Lisboa e a Universidade Técnica.
O ensino superior em Portugal é, como muitíssimas outras áreas, vítima de equívocos e de decisões políticas nem sempre claras. Uma das grandes dificuldades que enfrenta prende-se com a demissão durante muito tempo de uma função reguladora da tutela que, sem ferir a autonomia universitária, deveria minimizar o completo enviesamento da oferta, pública e privada, que se verifica, um país com a nossa dimensão são suporta tantos estabelecimentos de ensino superior, sobretudo, se atentarmos na qualidade. As regiões e autarquias reclamam ensino superior com a maior das ligeirezas. Durante algum tempo a pressão vinda da procura e a incapacidade de resposta do subsistema de ensino superior público associada à demissão da tutela da sua função reguladora, promoveu o crescimento exponencial do ensino superior com situações que, frequentemente, parecem incompreensíveis à luz de um mínimo de racionalidade e qualidade. Portugal contará com cerca de 160 instituições de ensino superior, como indicador relativo temos um rácio de 17,4 estabelecimentos por milhão de habitantes, enquanto a Espanha apresenta 7,4 um dado extraordinário.
Nesta matéria, a qualidade e o redimensionamento da rede, espera-se que o processo em curso de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior se revele um forte incentivo, seja eficaz e não desenvolvido de uma forma cega. Existem cursos que apesar de alguma menor empregabilidade se inscrevem em áreas científicas de que não podemos prescindir com o fundamento exclusivo no mercado de emprego. Podemos dar como exemplo formações na área da filosofia ou nichos de investigação que são imprescindíveis num tecido universitário moderno. Será também importante que o processo permita desenvolver e incentive modelos de cooperação, universitário e politécnico, público e privado, que potencie sinergias, investimentos e massa crítica de que o processo de fusão entre a Clássica de Lisboa e a Técnica pode constituir um exemplo que se deseja bem sucedido.
O enviesamento da oferta de que acima falava, alimenta a formação em áreas menos necessárias e não promove a formação em áreas carenciadas. Tal facto, conjugado com o baixo nível de desenvolvimento do país e com uma opinião publicada pouco cuidadosa na informação, leva a que se tenha instalado o equívoco dos licenciados a mais e destinados ao desemprego, quando continuamos a ser um dos países da UE com menos licenciados, já o disse aqui muitas vezes.

4 comentários:

Ruben Nunes disse...

concordo completamente, parabens pelo artigo

Zé Morgado disse...

Obrigado, vá passando

João das Regras disse...

Na presente crise, não há "áreas carenciadas"; todas elas produzem excedentes - horroroso estar a referir-me a pessoas qualificadas assim, mas é o melhor termo que arranjo a esta hora.
Eliminar áreas só porque não têm dado emprego é um erro; quando muito, cortar nas vagas.
A porcaria de adaptação de Bolonha que se fez em Portugal também não ajudou nada, bem pelo contrário.
Na área do Direito, foi a vergonha total.


Fora isso, bom texto.

Zé Morgado disse...

Caro João das Regras, em algumas áreas, sobretudo tecnológicas, ainda temos necessidade de gente qualificada, dizem os analistas.