domingo, 5 de fevereiro de 2012

JOVENS, PRECÁRIOS, IGNORANTES E POUCO SOLIDÁRIOS

Pois é, não está nada fácil ser jovem. Sabíamos que eram precários, que eram ignorantes e agora que não são solidários.
O Público de hoje refere um estudo interessante do Instituto de Ciências Sociais de que alguns dados me levam a umas notas breves.
Os jovens são o grupo que menos solidariedade revela face às dificuldades dos mais pobres, sendo que a seguir neste "ranking" de preocupação social, vem precisamente o grupo com menor estatuto social. Um outro dado que me merece referência é o facto de mais de metade, 58%, dos inquiridos não acreditar "que existam oportunidades para que pessoas de todas as origens sociais possam subir na vida".
Estes resultados remetem para um aspecto que várias vezes tenho referido no Atenta Inquietude e que designo como a dimensão de natureza psicológica e não tangível da crise.
Os jovens constituem o grupo etário mais afectado pelo desemprego e pela precariedade. São o grupo de desempregados mais desprotegido dos apoios sociais, creio que 85% dos jovens desempregados não têm subsídio de desemprego. Existem centenas de milhares de jovens em situação "nem, nem", não estudam nem trabalham. Acresce que são também o grupo etário mais qualificado e a qualificação que lhe venderam como passaporte seguro para um projecto de vida positivo não está a ser rentabilizada hipotecando sonhos e projectos.
Neste quadro, não me parece nada estranho a "falta de solidariedade" revelada no estudo, aliás coerente com o facto de o segundo grupo menos solidário ser justamente o grupo com menos estatuto social. Todos nós conhecemos as dramáticas e patéticas imagens televisivas de lutas de pobres por migalhas distribuídas.
A questão é que o modelo económico, social e cultural que estruturámos e a que chamamos "desenvolvido", produz um nível de competitividade fomentador de exclusão, pobreza e deterioração das relações sociais, produzindo "efeitos colaterais" como a falta de solidariedade.
Provavelmente, os mais solidários são os que vivem na sua "zona de conforto" para usar a expressão tão em moda, ou seja, têm recursos que asseguram um mínimo de qualidade de vida e valores menos "contaminados" pela indiferença motivada pela auto-centração nas suas próprias dificuldades, caso dos jovens e mais pobres.
Uma palavra final para a desesperança revelada e que já designei como o mais grave efeito não tangível da crise, o não acreditar, a desistência. Discursos inaceitáveis das lideranças políticas que temos vindo a ouvir nos últimos tempos alimentam, também, esta desesperança.

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