terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

ATÉ AO DESACORDO FINAL

Parece que a questão do Acordo Ortográfico reentrou decididamente na agenda. Ainda bem.
Depois da agitação decorrente da decisão de Vasco Graça Moura de suspender a sua utilização no CCB, surgiu a notícia sobre a ausência de posição institucional da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e posteriormente o muito significativo editorial do Jornal de Angola com a expressão de uma opinião francamente desfavorável ao Acordo Ortográfico. Ainda bem, escrevo de novo.
Entretanto têm vindo a suceder-se iniciativas e tomadas de posição no sentido de tentar até ao limite contrariar a sua implantação, relembro que Angola e Moçambique ainda não o subscreveram, sendo, creio, pouco provável que após a posição expressa no Jornal de Angola, muito próximo do governo, as autoridades de Luanda o venham a fazer.
Ainda bem, torno a escrever.
Neste quadro, enquanto a questão não estiver definitivamente encerrada retomo, e retomarei, a minha breve e não técnica reflexão sobre o que me parece estar em causa e expresso o meu profundo desacordo com o Acordo.
Do que tenho lido e ouvido, nada me tem convencido da sua bondade ou necessidade. Entendo que as línguas são estruturas vivas, em mutação e isso é importante. Neste cenário, é clara a necessidade de ajustamentos, por exemplo, a introdução de palavras novas ou mudanças na grafia de outras o que não me parece sustentação suficiente para o que o Acordo Ortográfico estabelece como norma. Já estou cansado do argumento da “pharmácia” quando se pode verificar que em todos os países, e são muitos, em que o termo tem a mesma raiz, a grafia é com “ph” e nada de muito grave acontece. A introdução ou mudança na grafia tem acontecido em todas as latitudes e não tem sido necessário um Acordo com os conteúdos bizarros, alguns, que este contém.
Por outro lado, a grande razão, a afirmação da língua portuguesa no mundo, também não me convence pois não me parece que o inglês e o castelhano que têm algumas diferenças ortográficas nos diferentes países em que são língua oficial, experimentem particulares dificuldades na sua afirmação, seja lá isso o que for. De facto não tenho conhecimento da perturbação e do drama com origem nas diferenças entre o inglês escrito e falado na Inglaterra e nos Estados Unidos, mas isto dever-se-á, certamente, a ignorância minha e à pequenez irrelevante daquelas comunidades anglófonas.
Por outro lado, a opinião dos especialistas não é consensual, longe disso, temos regularmente exemplos disso mesmo, e eu sou dos que entendem que em todas as matérias é importante conhecer a opinião de quem sabe.
Neste quadro e como sou teimoso vou continuar a escrever em desacordo até que o teclado me corrija. Nessa altura desinstalo o corrector que venha com o acordo e vou correr o risco de regressar à primária, ou seja, ver os meus textos com riscos vermelhos por baixo de algumas palavras, os erros.
Não é grave, errar é humano.
No entanto, como toda gente, não gosto de errar, pelo que preferia continuar a escrever desacordadamente.

4 comentários:

Margarida Alegria disse...

Plenamente de acordo! Subscrevo! São essas também as peculiaridades do DesAcordo e dos seus defensores que me fazem impressão!
Ainda hoje/ontem o meu blog "Alegrias e Alergias" divulgou mais umas dessas resistências.
Espero que o AO acabe mesmo no lixo, o seu lugar. É absurdo e nada tem de lógico ou científico, causando sérios problemas a quem ensina a Língua (e tantas vezes se esquecem uns e outros de ter em conta esse aspecto).
Cumprimentos blogosféricos! :)

Zé Morgado disse...

Retribuídos

Anónimo disse...

O "ph" em "pharmacia", por muito elegante e rico que seja, e por muito que eu pessoalmente gostasse de o escrever, podia ser substituído por "f" (como o foi no AO1911) sem que tal alterasse o timbre: "ph" e "f" têm o mesmo valor fonético, apenas diferem graficamente (o que não é pouco...). Tal não acontece na supressão das consoantes ditas mudas "c" e "p", que o Acordo de 1911 teve pelo menos o bom-senso de manter para não alterar o valor vocálico das palavras onde ocorrem. A consoantes não são mudas: para além de serem etimológicas (o que já é suficiente para as conservar, critério escrupolosamente seguido pelo Inglês ou Francês!) têm um valor fonético, estudado pelos linguístas e filólogos: abrem as vogais que as precedem, o que é bem-vindo até para contrariar a tendência do Português europeu para fechar as vogais e afasta-se assim cada vez mais da pronunciação brasileira!

Zé Morgado disse...

Também por isso ... o Desacordo com o Acordo.