Nesta fase da minha vida, apesar de olhar para o futuro, sinto que viajo mais frequentemente ao passado. Um dia destes lembrei-me de como a certa altura, jovem adulto, me parecia que o mundo estava, finalmente num caminho acertado, seja lá isso o que for.
O desenvolvimento do pós-guerra, uma
economia que estava a trazer mais bem-estar e a mais gente, abertura nos
costumes e nos valores, uma comunidade mais aberta, estámos num rumo positivo.
Em Portugal vivíamos, finalmente,
em democracia, terminavam guerras em África e a maioria de nós tinha imagens criadoras
de futuro, o futuro passava pelas nossas mãos.
Hoje penso que perdemos, deixámos
fugir o que tínhamos e temos um mundo em cacos, guerras e ameaças que
pensávamos já não ser possível, inversão de políticas com retorno a visões
totalitárias mascaradas de democracia, ameaça aos direitos básicos que acreditávamos
estarem seguros, discursos e práticas de exclusão, xenofobia, racismo, tudo o que
ingenuamente demos como adquirido com ultrapassado.
Desculpem a deselegância, fizemos
uma boa merda com o mundo que tivemos nas mãos.
E agora, quando olho para o futuro
e procuro, outra vez, imagens criadoras de futuro que nos mostrem um caminho, a
dificuldade é grande.
Um dos sonhos que a vida me
trouxe foi a avozice e também pelos netos tento olhar para o futuro e no
caminho que terão pela frente.
Felizmente estão perto e, talvez
pelos genes, gostamos de falar. O Simão, 11 anos, diz com muita frequência que
somos uns “tagarelas”, somos Morgados. É verdade, Simão. Ainda bem que falamos e
o falar também nos ajuda no caminho para o futuro. Nas nossas “conversetas”,
como ele lhes chama e em que cabe tudo é engraçado que ele termina com alguma
frequência as frases com um “é não é, avô?” que lhe sustenta as ideias e as
dúvidas.
Também um destes dias, o Tomás, 8
anos, após uns minutos de conversa sobre “saber coisas” concluiu com ar
satisfeito, que já me tinha ensinado coisas que eu não sabia. Ficou contente e
eu também, é assim que deve ser.
Desejo muito que os “saberes” do
Tomás e as “conclusões ou dúvidas” do Simão ajudem a percorrer o caminho para o
futuro que, quero acreditar, não sendo fácil, há-de ser o que eles quiserem.
São assim os dias mágicos e
inquietos da avozice.
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