A propósito da divulgação do habitual trabalho anual do Conselho Nacional de Educação, “Estado da Educação 2023", e face aos problemas relativos ao desempenho dos alunos, li numa entrevista ao Presidente do CNE, Domingos Fernandes, no DN que uma política apostada em melhorar o ensino e as aprendizagens deve passar por “programas de formação inicial e contínua de professores que tenham realmente em conta os conhecimentos e competências que têm de ser desenvolvidas sobretudo no que se refere ao conhecimento científico inerente à disciplina ou disciplinas que se lecionam, ao conhecimento pedagógico, ao conhecimento do currículo e, em geral, à inovação pedagógica”.
Peço desde já desculpa, será
conversa de velho e corro o risco de ser injusto, mas, já aqui o tenho
referido, cansa-me a recorrente narrativa da inovação. Por outro lado, e como
também já disse, não simpatizo com a insistência sobre a necessidade de
inovação em educação ou de uma "nova forma de ensinar".
Mudar algo na forma como se faz
não é o mesmo que inovar, fazer qualquer coisa de novo. Como dizia Camões há já
alguns aninhos, “todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas
qualidades” e, recordando um velho entendimento, na psicologia, inteligência é
adaptação, não é, repito, fazer de novo.
Nestas matérias, talvez de forma
simplista, mas é intencional, penso como Almada Negreiros quando referia na
"Invenção do Dia Claro”, "Nós não somos do século de inventar
palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século de inventar
outra vez as palavras que já foram inventadas”.
Dito de outra maneira, já
conhecemos as palavras da educação, apenas temos que ir ajustando o que fazemos
com elas.
As escolas são o agora, o
presente, e é neste presente que se constrói o futuro. Não existem poções
mágicas em educação por mais desejável que possa parecer a sua existência e
desafiante a chuva de discursos e projectos de inovação.
Num exercício de crença e boa
vontade afirmo, como o José Afonso, “seja bem-vindo quem vier por bem” e
registo todas as iniciativas que possam contribuir para minimizar ou erradicar
problemas, mas já me falta convicção no impacto do procedimento habitual, para
cada constrangimento ou dificuldade percebida nas escolas, pelas escolas ou de
fora das escolas, aparece vindo de fora ou gerido de fora, um Plano, um
Projecto, um Programa, uma Iniciativa, as combinações são múltiplas, destinado
a minimizar eliminar as dificuldades
identificadas.
Durante as últimas décadas, perco
a conta a planos, projectos, programas, experiências inovadoras que chegaram às
escolas para combater o insucesso ou, pela positiva, promover o sucesso,
promover a leitura e escrita, promover a matemática, promover a educação
científica, promover a educação inclusiva, erradicar ou minimizar o bullying, a
relação entre escola e pais e encarregados de educação, promover a expressão
artística e a criatividade, promover comportamentos saudáveis e actividades
desportivas, literacia financeira, promover a inovação e as novas tecnologias,
Também sei, tantas vezes escrevo
e afirmo, que são necessárias mudanças que acompanhem o tempo. Amanhã deixarei
aqui algumas notas neste sentido.
O desenvolvimento das comunidades
exige ajustamentos regulares no que fazemos em matéria de educação e em todos
os patamares do sistema, este é que é o grande desafio. Umas vezes melhor,
outras vezes com mais sobressaltos, temos feito um caminho importante e muito
mais ainda vamos ter que fazer, mas os ajustamentos que decorrem da regulação e
avaliação não têm que ir atrás da “mágica” ideia da inovação.
Tal como as crianças que só
aprendem a partir do que já sabem, nós também só mudamos a partir do fazemos e
do que sabemos. Este processo assenta num processo que deve ser robusto e
apoiado de auto-regulação e regulação que envolve actores e estruturas, ou
seja, o aluno, o professor, a escola, o ME, o sistema educativo. Dito de outra
maneira, a escola do futuro, seja lá isso o que for, constrói-se valorizando e
cuidando da escola do presente, como disse acima, o futuro é agora.
Confesso que me preocupam mais os
tratos que a escola actual recebe, que a inovação da escola do futuro.
Mais uma vez desculpem o risco de
ser injusto, mas já sinto cansaço face à narrativa da "inovação".
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