domingo, 16 de outubro de 2016

DAS MUDANÇAS EM EDUCAÇÃO. AGORA O CURRÍCULO

Como é sabido, está anunciado um trajecto que passará por mudanças na organização e conteúdos dos currículos do ensino básico.
O Secretário de Estado da Educação, João Costa, divulgou alguns eixos dessas mudanças.
Referiu aspectos como a revisão da extensão dos currículos definindo com a colaboração das associações profissionais as dimensões essenciais em cada área de conhecimento que permitirá maior flexibilização e diferenciação do trabalho em sala de aula, a promoção um modelo de organização e conteúdos que sustentem práticas de gestão curricular mais integrada ou o incremento da margem de autonomia das escolas na gestão curricular.
Por outro lado, as mudanças a introduzir serão sustentadas pela definição de um “Perfil de competência” desejado para os alunos que terminam o ensino secundário e que está em elaboração por um grupo coordenado por Guilherme d’Oliveira Martins.
É muito frequente no universo da educação que quando se fala de mudanças surjam inúmeras referências centradas no excesso de alterações o que retira estabilidade e pensamento a prazo a este universo.
Paradoxalmente, ou talvez não, existem outras tantas referências que afirmam a necessidade de mudanças.
A este cenário não será alheio um mundo de conflitualidade de interesses e visões em matéria de educação. Acresce ainda que as opiniões sobre o excesso de mudanças ou a sua necessidade são de uma percepção altamente dispersa, quase individualizada, em modo “cada cabeça, sua sentença”.
Relativamente às mudanças em matéria de currículo, ao seu anúncio correspondeu de imediato o habitual coro de “lá vem mudança”, “retorno do facilitismo”, etc. O outro coro afina pela necessidade de ajustamento, embora para ambas as posições seja ainda pouco claro o sentido, o alcance, o calendário ou o método da mudança.
Não me lembro de muitas opiniões que entendessem como bons os currículos actuais. São mais frequentemente entendidos como extensos, demasiado prescritivos e normativos, pouco amigáveis para as diferenças entre alunos e para o número de alunos habitual nas nossas salas de aula.
Não me lembro de muitas opiniões defenderem que 998 metas curriculares para os nove anos do ensino básico em Português ou as 703 metas curriculares para Português e Matemática no 1º ciclo do básico, bem como o conteúdo de muitas destas metas, fossem algo de muito positivo para o trabalho bem-sucedido de alunos e professores, antes pelo contrário.
Em que ficamos?
Os princípios genéricos, apenas isso porque o resto é desconhecido, da intenção de mudança vão ao encontro dos modelos curriculares de muitos países habitualmente considerados como possuindo sistemas educativos com qualidade reconhecida.
É verdade que mudar, só por mudar, é errado e tem consequências negativas a vários níveis.
Mas também é verdade que não mudar algo que não é positivo tem custos muito elevados, prolongados e com impacto negativo em diferentes dimensões.

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