domingo, 24 de abril de 2016

É PRECISO CONTRARIAR O DESTINO

Um estudo do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa, “Os afro-descendentes no sistema educativo português” mostra que os alunos com famílias oriundas dos PALOP apresentam taxas de reprovação muito acima das já demasiado altas dos alunos de famílias portuguesas, no 1.º ciclo são de 16% e dos portugueses de 5%; no 2.º ciclo são de 28% face a 11%; no 3.º ciclo de 32% face a 15% e no secundário de 50% face a 20%. São também maioritariamente encaminhados para ensino profissional, 80%, o dobro dos alunos de famílias portuguesas no ensino secundário, sendo que os que seguem os cursos gerais também apresentam uma taxa de reprovação bem acima.
Sabemos, foram divulgados estudos recentes pelo CNE, da forte associação entre os resultados escolares e as características sociodemográficas das famílias, designadamente, níveis de escolaridade dos pais e estatuto económico.
Se acrescentarmos os fenómenos de guetização urbanística, social, económica e cultural inerentes a grupos minoritários as questões ficam ainda mais complexas e a necessitar de abordagens para além do universo da educação.
No entanto, também sabemos que a escola faz, pode fazer a diferença, ou seja, o trabalho na e da escola e dos professores é um factor significativamente contributivo para o sucesso dos alunos mais vulneráveis e capaz de contrariar o peso das outras variáveis que estão presentes nesses alunos. O DN relata a experiência interessante da Escola Secundária Dr. Azevedo Neves em Cascais com uma população escolar com muitos alunos com famílias oriundas dos PALOP.
Quando abordo estas questões cito com frequência uma afirmação de 2000 do Council for Exceptional Children, "O factor individual mais contributivo para a qualidade da educação é a existência de um professor qualificado e empenhado".
No entanto a existência de professores qualificados e empenhados não depende só de variáveis individuais de cada docente, decorre também de um conjunto de políticas educativas que promovam a qualificação, a motivação e a valorização a diferentes níveis do trabalho dos professores.
Depende de políticas educativas que contemplem aspectos como conteúdos e organização curricular, diferenciação de percursos, de oferta educativa e de práticas, modelo de organização das escolas, recursos humanos adequados ao nível de docentes, técnicos e funcionários, tipologia e efectivo de escolas e turmas, autonomia real das escolas, apenas para citar alguns exemplos de como a diferença tem que ser construída também antes de chegar à sala de aula.
Como referi acima, importa ainda que no âmbito mais alargado das políticas sociais se combata a exclusão e a pobreza, se promova a qualificação das gerações adultas, políticas urbanísticas locais que minimizem a guetização das comunidades, etc.
No entanto, como afirmava Mandela, a educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo. Não há volta a dar.

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