quarta-feira, 30 de setembro de 2015

SÓ APRENDE QUEM SE RI

No Expresso online encontra-se a referência a um estudo publicado na Nature que, em linha com resultados de outros trabalhos, encontra uma relação significativa entre o estilo de alimentação e o rendimento escolar em jovens.
Adolescentes com 14 anos e que seguem uma dieta com forte presença de carnes vermelhas, doces, comida com muita gordura, farinhas, bebidas com açúcar e carnes processadas, obtêm em matemática, escrita e leitura resultados em média 7% mais baixos que os alunos cuja alimentação privilegia vegetais e cereais integrais.
É afirmado que na adolescência o desenvolvimento adequado é afectado por uma alimentação de pior qualidade.
Este trabalho recordou-me as dificuldades que, é bom não esquecer, muitas famílias atravessam em Portugal sendo público que muitas crianças e adolescentes encontram na escola a única refeição consistente e equilibrada a que acedem levando a que em muitas autarquias as cantinas escolares funcionem também no período de férias ou de interrupção de aulas.
Em anos anteriores o MEC procurou responder a este tipo de situações através do PERA - Programa Escolar de Reforço Alimentar.
O impacto das circunstâncias de vida no bem-estar das crianças e em aspectos mais particulares no rendimento escolar e comportamento é por demais conhecido e essas circunstâncias constituem, aliás, um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades básicas.
Um Relatório de 2013, "Food for Thought", da organização Save the Children, afirmava que 25% das crianças terão o seu desempenho escolar em risco devido à malnutrição com as óbvias e pesadas consequências em termos de qualificação e qualidade de vida de que a educação é uma ferramenta essencial.
Em qualquer parte do mundo, miúdos com fome, com carências, não aprendem e vão continuar pobres. Manteremos as estatísticas internacionais referentes a assimetrias e incapacidade de proporcionar mobilidade social através da educação. Não estranhamos. Dói mas é “normal”, é o destino.
Quando penso nestas matérias sempre me lembro da história que conto com frequência e foi umas das maiores lições que já recebi, acontecida há uns anos em Inhambane, Moçambique. Ao passar por uma escola para gaiatos pequenos o Velho Bata, um homem velho e sem cursos, meu anjo da guarda durante a estadia por lá, disse-me que se mandasse traria um camião de batata-doce para aquela escola. Perante a minha estranheza, explicou que aqueles miúdos teriam de comer até se rir, “só aprende quem se ri”, rematou o Velho Bata.
Pois é Velho, miúdos com fome não aprendem e vão continuar pobres.

1 comentário:

inconfessável disse...

Começar por dizer que tens toda a razão.
Se reparares bem na alimentação mediterrânica, na quantidade de vezes que se deve comer carne ou peixe, chegas à conclusão que é uma dieta considerada de 'pobres' e no entanto, dizem, é a melhor e mais barata.
Não sei se essa dieta será a melhor. Desconfio muito desses estudos e das modas