segunda-feira, 1 de abril de 2013

ESTÁ TUDO FUNDIDO. O MEC finalizou a reestruturação da rede escolar

O MEC divulgou hoje o que parece ser a etapa final do que designa por reorganização da rede escolar através da fusão de escolas originando a constituição de mais 18 agrupamentos e mega-agrupamentos, num processo que durante todo o seu desenvolvimento contrariou pareceres das autarquias, dos conselhos gerais e direcções das escolas, sendo, portanto, objecto de um largo consenso, em modo MEC, evidentemente.
O MEC refere a existência de 23 estruturas com mais de 3000 alunos e entende que os novos agrupamentos “têm uma dimensão equilibrada e racional”. Evidentemente.
Com este processo de fusão e agrupamento muitos professores leccionam em diferentes escolas, a dezenas de quilómetros de distância, em turmas superlotadas por via da concentração dos alunos e pela decisão de aumentar o efectivo de turma. O MEC afirma que este processo permite “reforçar o projecto educativo e a qualidade pedagógica das escolas, através da articulação dos diversos níveis de ensino”. Evidentemente.
Seria ridículo se não fosse trágico. Não sei se será a última vez que me refiro no Atenta Inquietude a este processo, mas aqui ficam mais umas notas repescadas.
Relembro um documento, de Novembro, do Conselho Nacional de Educação sobre a autonomia das escolas em que foi apresentado o efeito negativo que, do ponto de vista da autonomia das escolas, advém da política de criação de mega-agrupamentos. É referido, por exemplo, o “reforço da centralização burocrática dentro dos agrupamentos, o aumento do fosso entre quem decide e os problemas concretos a reclamar decisão” e a “sobrevalorização da gestão administrativa face à gestão autónoma das vertentes pedagógicas”.
Tal constatação não é estranha e vem ao encontro das muitas reservas que este caminho tem vindo a merecer. Desde sempre tenho defendido que apesar de ser necessária uma reorganização da rede escolar, porque escolas de reduzidíssima dimensão, para além dos custos, não cumprem a sua função social com qualidade, teria absolutamente desejável que se não enveredasse pela criação de mega-escolas ou mega-agrupamentos.
De há muito que se sabe que entre os factores mais contributivos para o insucesso, absentismo e problemas de disciplina se podem identificar o efectivo de escola e a qualidade e consistência da sua liderança. Não é certamente por acaso ou por desperdício de recursos, que os melhores sistemas educativos, lá vem a Finlândia outra vez, e, por exemplo, mais recentemente o Reino Unido e os Estados Unidos na luta pela requalificação da sua educação, optam por estabelecimentos educativos que não ultrapassam a dimensão média de 500 alunos. Sabe-se, insisto, de há muito que o efectivo de escola está mais associado aos problemas que o efectivo de turma, ou seja, simplificando, é pior ter escolas muito grandes que turmas grandes dentro dos limites razoáveis.
Por outro lado, considerando a desejável e progressiva autonomia das escolas, a qualidade das lideranças emerge cada vez mais como uma variável com peso muito significativo. Estruturar mega-agrupamentos com lideranças diluídas e dispersas não será, certamente, uma boa forma de promover essa qualidade e, por exemplo, a consistência e coesão de práticas e equipas de docentes, técnicos e funcionários não se percebendo como é que "reforça o projecto educativo e a qualidade pedagógicas das escolas" na delirante visão do MEC. Como o CNE referiu, este cenário acaba por promover o reforço da centralização burocrática e contraria a progressão da autonomia, sempre presente na retórica mas de difícil promoção.
É fundamental que a comunidade tenha consciência deste universo de modo a tentar travar o movimento de construção de autênticos barris de pólvora e contextos educativos que dificilmente promoverão sucesso e qualidade apesar do esforço de professores, alunos, pais e funcionários.
Não conheço nenhuma justificação de natureza educativa que sustente a existência vantajosa de escolas para crianças e adolescentes com 1500 lugares ou mais, bastante mais. A razão para a sua criação só pode, pois, advir da vontade de controlo político do sistema, a grande tentação de qualquer governo, menos escolas envolvem menos directores e da sobrevalorização de questões economicistas que a prazo se revelarão com custos altíssimos pela ineficácia e problemas que se levantarão.
O insucesso sai sempre mais caro que o investimento no sucesso.

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